27 Dezembro, 2008
"A Arte da Alegria" de Goliarda Sapienza, Ed. Dom Quixote.
Começei a ler este livro extraordinário, o que significa, nesta época de grande agitação familiar, a leitura pela noite dentro até já não conseguir ver as letras. E, mesmo assim, só cheguei á página 147 o que quer dizer que me faltam mais umas 400. E vou tirando notas.
Não tenho pressa.
A autora morreu em 1996 e este romance autobiográfico foi publicado postumamente. Trata a história de Modesta, uma mulher de grande coragem, sapiência e determinação. Até onde eu li, passa-se na Sicília e acompanha as alterações sociais e políticas na Itália, desde 1900. A narrativa é encantatória, sensual e erótica, misturando géneros, atravessado o tempo. Não posso dizer mais, por agora.
Aqui fica uma citação, a qual, embora, não tenha a ver propriamente com a história, nos interessa, a nós, leitoras e leitores. É sobre as palavras e tem a ver com o caminho da personagem principal à medida que se vai libertando do peso da pobreza, da família, da religião, das convenções, da castidade imposta, etc...:
" O que (eu, Modesta) precisava de fazer era estudar as palavras exactamente como se estudam as plantas, os animais... E depois limpá-las do bolor, libertá-las das incrustações de séculos de tradição, inventar umas quantas novas e sobretudo evitar, para não voltar a servir-me delas, as que o uso quotidiano emprega com mais frequência, as mais podres, tal como: sublime, dever, tradição, abnegação, humildade, alma, pudor, coração, hroísmo, sentimento, piedade, sacrifício, abnegação."
sábado, 27 de dezembro de 2008
domingo, 21 de dezembro de 2008
Livros para a Comunidade Leitores de Janeiro 2009 - Culturgest
21 Dezembro, 2008
BOAS FESTAS PARA TODAS E TODOS OS/AS LEITORES (AS)
Muitas leituras felizes.
Começou o Inverno.
Estamos próximas do novo ano e da Comunidade de Leitores que se segue.
O problema parece ser maior em relação ao livro da Duras. O Raul enviou um e-mail, que diz o seguinte:
"Reencaminho-lhe este “mail” ( da Media Livros) com o objectivo de lhe comunicar que o livro da Marguerite Duras se encontra efectivamente esgotado na editora. Eu consegui comprá-lo mas por devolução de um cliente."
Entretanto, eu própria procurei na Media Books http://www.mediabooks.pt/ ( será o mesmo fornecedor?) onde constam as seguintes informações:
Uma Barragem Contra o Pacífico de Marguerite Duras Editor: Difel 82 - Difusão Editorial, S.A.PVP c/IVA: 12,5 € - Ano de Edição: 1988 - Formato: 23 x 15 Suporte: Livro - N.º Páginas: 232 - ISBN: 9789722900935 - Disponibilidade: Disponível - Prazo de Entrega: 4 a 5 dias úteis.
Breve Descrição: Este romance é mais do que uma viragem guiada pelo território nebuloso da memória. É mais do que uma narrativa construída sob o fascínio das letras de Pierre Loti e sob o efeito da descoberta do seu contagiante exotismo. É já o emergir de uma voz pessoalíssima e de uma concepção romanesca que vive muitas vezes paredes meias com o tempo cinematográfico.
Há, ainda, o site da própria editora Difel, onde esta obra também está disponível. ( Estará?) http://www.difel.pt/catalog/index.php
domingo, 14 de dezembro de 2008
Melhores Livros 2008
14 Dezembro, 2008
O ano está a acabar e todos nós lemos muitos livros. Ou não fossemos uma Comunidade de Leitores...
Eu gosto de listas. Gosto de pensar em livros alinhados na minha cabeça por importância, grau de prazer, riqueza de ensinamentos, detonador de emoções, etc., etc.
E quanto a vós, companheiros de leituras?
Seria possível escolhermos os melhores livros do ano que passou? Ou, melhor dizendo, quais foram as melhores leituras que fizemos, neste espaço de tempo? Proponho que, cada um de nós, indique um máximo de três melhores títulos no geral e um só - o melhor - das duas Comunidades. Vamos votar?
O ano está a acabar e todos nós lemos muitos livros. Ou não fossemos uma Comunidade de Leitores...
Eu gosto de listas. Gosto de pensar em livros alinhados na minha cabeça por importância, grau de prazer, riqueza de ensinamentos, detonador de emoções, etc., etc.
E quanto a vós, companheiros de leituras?
Seria possível escolhermos os melhores livros do ano que passou? Ou, melhor dizendo, quais foram as melhores leituras que fizemos, neste espaço de tempo? Proponho que, cada um de nós, indique um máximo de três melhores títulos no geral e um só - o melhor - das duas Comunidades. Vamos votar?
Lembrar António Alçada Baptista
14 Dezembro, 2008
Quero que fique aqui uma nota sobre o meu amigo António Alçada Baptista. Há muito tempo que o não via, separados pela distância geográfica e pelos rumos que as vidas levam. Mas lembro-me dos nossos almoços em tasquinhas da Baixa lisboeta e em roda de conhecidos e amigos no Procópio. Há anos e anos. Com conversa amena - ele era um "charmeur" - e troca de ideias. Ele, sempre muito calmo e conciliador, afectuoso e delicadíssimo. Recordo os seus livros, que irei reler, principalmente "Os Nós e os Laços", "Catarina ou a Sabor a Maçã", "O Riso de Deus" e "A Pesca À Linha, Algumas Memórias". A sua escrita reflectia o homem: um humanista, apreciador do belo, conciliador, equilibrado. Apesar de conservador possuía grande capacidade para entender a diferença e sempre o vi rodeado de pessoas com opiniões, ideais, crenças e modos de estar diversos. Nasceu em 1927 e morreu neste Dezembro frio de 2008.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
Mais Vermeer
9 Dezembro, 2008
"petit pan de mur jaune"
Mais um comentário indispensável, desta vez da Luisa Possolo, sobre Vermeer. Por favor vejam as "postagens" em "Rapariga de Brinco de Pérola". As pistas apresentadas são fascinantes. Luisa lembra-nos o episódio em "À la Recherche..." de Proust, relacionado com a "Vista de Delft".
Ainda Vermeer
9 Dezembro, 2008
A imagem representa a reconstrução de uma "camara obscura" do século XVII
Ainda Vermeer - a propósito de "Rapariga com Brinco de Pérola"
Atenção ao "post" de Raul Ramos Pereira que coloca uma questão muitíssimo interessante - a controvérsia em torno da utilização, pelo pintor, da "camara obscura". Quem poderá dar-nos mais pistas sobre este tema?
Encontrei esta página da BBC que trata o assunto, embora sem grande profundidade, mas com alguma informação pertinente:
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
Última Sessão da Comunidade de Leitores da Culturgest
"Vista de Delft" Johannes Vermeer, 1660
8 Dezembro, 2008
É já depois de amanhã, dia 10 de Dezembro, a última sessão desta Comunidade de Leitores, na Culturgest. (Em Janeiro, teremos mais, como já foi noticiado).
Proponho algumas questões para iniciarmos a discussão de "Rapariga com Brinco de Pérola" de Tracy Chevalier.
1 - A cidade de Delft no século XVII aparece-nos como próspera, auto-suficiente, dinâmica. Qual era a situação socio-económica nos Países Baixos, nessa altura, e porquê? O que significa a estrela na pavimento, onde Griet se detém, tanto no início, como no fim? Para onde (e o que) é que as suas pontas indicam? O que estava a acontecer na Europa, por essa altura?
2 - A prosperidade em que viviam os habitantes dos Países Baixos teve grande importância na História de Arte. Porquê? A que grupo social pertenciam as pessoas que adquiriam obras de arte? Será que o gosto dessas pessoas teve influência nos temas usados pelos artistas, neste caso, Johannes Vermeer?
3 - Como comparar a arte e a vida de Vermeer com a de outro grande artista - Rembrandt, seu compatriota e seu contemporâneo, embora mais velho - que já analisámos quando lemos "A Ronda da Noite" de Agustina Bessa Luís?
4 - Quais as diferenças de tratamento destes dois pintores por duas escritoras tão diferentes como Tracy Chevalier e Agustina Bessa Luís?
5 - "Rapariga com Brinco de Pérola" centra-se na figura da jovem Griet. Será Griet uma típica adolescente? Se sim, de que forma? Quais são as suas características principais?
6 - Será a relação de Griet com Vermeer o tema fulcral deste livro? O quadro foi pintado cerca de 1665, quando Vermeer tinha 33 anos. O que Griet viu em Vermeer? E como se poderá caracterizar a relação do pintor com a sua própria mulher, Catharina?
7 - Como caracterizar a relação entre Vermeer e a sogra, Maria Thins? Será que esta última percebe melhor a arte do genro ou não? E quanto à relação entre Maria Thins e Griet? E entre Griet e os outros membros da casa, incluindo, obviamente, a criada mais antiga, Tanneke ?
8 - De que forma é que a religião afecta a relação de Vermeer com Griet e, na realidade, afecta todo o tipo de relacionamentos?
9 - Qual o papel do mecenas e patrono de Vermeer, Van Ruijven, em toda a história? Porque é que ele tentou "abusar" de Griet?
10 - Quais são os sentimentos mais poderosos descritos neste livro? Como é que se relacionam com a arte de Vermeer?
11 - Será que Griet fez a escolha certa ao casar com o filho da talhante? De que forma o tempo que passou em casa dos Vermeer afectou toda a sua vida?
12 - Finalmente, o que pensar em termos de verosimilhança, desta ficção criada por Tracy Chevalier para explicar o mistério do quadro "Rapariga de Brinco de Pérola" de Vermeer - notar as diferenças entre este e outros quadros do artista.
8 Dezembro, 2008
É já depois de amanhã, dia 10 de Dezembro, a última sessão desta Comunidade de Leitores, na Culturgest. (Em Janeiro, teremos mais, como já foi noticiado).
Proponho algumas questões para iniciarmos a discussão de "Rapariga com Brinco de Pérola" de Tracy Chevalier.
1 - A cidade de Delft no século XVII aparece-nos como próspera, auto-suficiente, dinâmica. Qual era a situação socio-económica nos Países Baixos, nessa altura, e porquê? O que significa a estrela na pavimento, onde Griet se detém, tanto no início, como no fim? Para onde (e o que) é que as suas pontas indicam? O que estava a acontecer na Europa, por essa altura?
2 - A prosperidade em que viviam os habitantes dos Países Baixos teve grande importância na História de Arte. Porquê? A que grupo social pertenciam as pessoas que adquiriam obras de arte? Será que o gosto dessas pessoas teve influência nos temas usados pelos artistas, neste caso, Johannes Vermeer?
3 - Como comparar a arte e a vida de Vermeer com a de outro grande artista - Rembrandt, seu compatriota e seu contemporâneo, embora mais velho - que já analisámos quando lemos "A Ronda da Noite" de Agustina Bessa Luís?
4 - Quais as diferenças de tratamento destes dois pintores por duas escritoras tão diferentes como Tracy Chevalier e Agustina Bessa Luís?
5 - "Rapariga com Brinco de Pérola" centra-se na figura da jovem Griet. Será Griet uma típica adolescente? Se sim, de que forma? Quais são as suas características principais?
6 - Será a relação de Griet com Vermeer o tema fulcral deste livro? O quadro foi pintado cerca de 1665, quando Vermeer tinha 33 anos. O que Griet viu em Vermeer? E como se poderá caracterizar a relação do pintor com a sua própria mulher, Catharina?
7 - Como caracterizar a relação entre Vermeer e a sogra, Maria Thins? Será que esta última percebe melhor a arte do genro ou não? E quanto à relação entre Maria Thins e Griet? E entre Griet e os outros membros da casa, incluindo, obviamente, a criada mais antiga, Tanneke ?
8 - De que forma é que a religião afecta a relação de Vermeer com Griet e, na realidade, afecta todo o tipo de relacionamentos?
9 - Qual o papel do mecenas e patrono de Vermeer, Van Ruijven, em toda a história? Porque é que ele tentou "abusar" de Griet?
10 - Quais são os sentimentos mais poderosos descritos neste livro? Como é que se relacionam com a arte de Vermeer?
11 - Será que Griet fez a escolha certa ao casar com o filho da talhante? De que forma o tempo que passou em casa dos Vermeer afectou toda a sua vida?
12 - Finalmente, o que pensar em termos de verosimilhança, desta ficção criada por Tracy Chevalier para explicar o mistério do quadro "Rapariga de Brinco de Pérola" de Vermeer - notar as diferenças entre este e outros quadros do artista.
sexta-feira, 5 de dezembro de 2008
Programa Culturgest para 2009
5 Dezembro, 2008
Já recebi o programa da Culturgest, Lisboa, para o primeiro trimestre de 2009. Para além da nossa Comunidade de Leitores (ver lista de livros e datas neste mesmo espaço) quero recomendar vivamente o ciclo de conferências do Professor José Pedro Serra dedicado à Cultura Clássica
O Fulgor da Grécia: o olhar, a palavra, o gesto
2009 Culturgest, Lisboa, 18:30 h
4 de Fevereiro
Homero ou o canto da vida heróica
11 de Fevereiro
No espelho da tragédia
18 de Fevereiro
Dioniso: Sol negro entre os olímpicos
25 de Fevereiro
Ao tear do tempo: Atenas e Jerusalém
Ouvir o Professor José Pedro Serra é uma experiência única; é compreender os Clássicos com enorme fulgor e clareza e adquirir "ferramentas" para (re)ler Homero, Virgílio e tantos outros autores que estabeleceram a matriz da nossa cultura e, evidentemente, da nossa literatura.
Chamo, também a atenção para o espectáculo da Elevator Repair Serviced - The Sound and the Fury (April Seventh, 1928) © Ariana Smart Truman - O Som e a Fúria (Sete de Abril, 1928) sobre o romance de William Faulkner.
©Fotografia de Henri Cartier-Bresson, 1947
Diz o programa:
"Em 2007, a companhia Elevator Repair Service apresentou na Culturgest Gatz, uma encenação-maratona do texto integral de O Grande Gatsby de Fitzgerald, que foi considerada o melhor espectáculo do ano pelos críticos do Público e do Expresso. O grupo, que nas suas produções combina comédia slapstick, cenários de alta e baixa tecnologia, textos literários ou found-texts, objectos encontrados e mobília deitada fora, assim como um estilo coreográfico altamente desenvolvido, tem-se concentrado ultimamente em textos literários e regressa agora com a estreia europeia de The Sound and the Fury (April Seventh, 1928), a partir de Faulkner."
Se quiser receber em sua casa a programação da Culturgest telefone , escreva, envie um fax ou um e-mail para culturgest.newsletter@cgd.pt
Já recebi o programa da Culturgest, Lisboa, para o primeiro trimestre de 2009. Para além da nossa Comunidade de Leitores (ver lista de livros e datas neste mesmo espaço) quero recomendar vivamente o ciclo de conferências do Professor José Pedro Serra dedicado à Cultura Clássica
O Fulgor da Grécia: o olhar, a palavra, o gesto
2009 Culturgest, Lisboa, 18:30 h
4 de Fevereiro
Homero ou o canto da vida heróica
11 de Fevereiro
No espelho da tragédia
18 de Fevereiro
Dioniso: Sol negro entre os olímpicos
25 de Fevereiro
Ao tear do tempo: Atenas e Jerusalém
Ouvir o Professor José Pedro Serra é uma experiência única; é compreender os Clássicos com enorme fulgor e clareza e adquirir "ferramentas" para (re)ler Homero, Virgílio e tantos outros autores que estabeleceram a matriz da nossa cultura e, evidentemente, da nossa literatura.
Chamo, também a atenção para o espectáculo da Elevator Repair Serviced - The Sound and the Fury (April Seventh, 1928) © Ariana Smart Truman - O Som e a Fúria (Sete de Abril, 1928) sobre o romance de William Faulkner.
©Fotografia de Henri Cartier-Bresson, 1947
Diz o programa:
"Em 2007, a companhia Elevator Repair Service apresentou na Culturgest Gatz, uma encenação-maratona do texto integral de O Grande Gatsby de Fitzgerald, que foi considerada o melhor espectáculo do ano pelos críticos do Público e do Expresso. O grupo, que nas suas produções combina comédia slapstick, cenários de alta e baixa tecnologia, textos literários ou found-texts, objectos encontrados e mobília deitada fora, assim como um estilo coreográfico altamente desenvolvido, tem-se concentrado ultimamente em textos literários e regressa agora com a estreia europeia de The Sound and the Fury (April Seventh, 1928), a partir de Faulkner."
Se quiser receber em sua casa a programação da Culturgest telefone , escreva, envie um fax ou um e-mail para culturgest.newsletter@cgd.pt
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Comunidade de Leitores em Janeiro 2009
4 Dezembro, 2008
Hoje sinto-me como se já fosse Natal. O nosso amigo Raul Ramos Gouveia já participou no blogue e as suas indicações - como encontrou os livros para a próxima Comunidade - são muitíssimo valiosas. O estabelecimento destes laços de cumplicidade dão um prazer inimaginável. Vejo, com precisão, as pessoas da Comunidade a calcorrearem as ruas à procura dos livros, a meterem o nariz nos alfarrabistas e nas livrarias, a puxarem pelo brio dos livreiros, a passarem a palavra aos amigos, a insistirem para que se façam novas edições deste ou daquele clássico. Um grupo com pessoas únicas e extraordinárias num exercício de vontade e prazer.
Nota: ler "Nadja" de André Breton, Ed. Estampa. Para recordar as deambulações pelas ruas da cidade ( neste caso, de Paris), as demandas, os acasos e os desencontros poéticos.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
Rapariga com Brinco de Pérola
3 Dezembro, 2008
A última sessão da última Comunidade de Leitores de 2008, na próxima semana, será dedicada à leitura de “Rapariga com Brinco de Pérola” de Tracy Chevalier. Como todos sabem – muita gente também viu o filme de Peter Webber – esta obra é uma visão romanceada de uma parte da vida do pintor Johannes Vermeer. (1632-1675), Delft – Holanda.
Citação de uma passagem de um texto encontrado na Internet : “A nova ordem que se instaurou nos Países Baixos a partir da trégua, firmada em 1609, trouxe diferenças culturais importantes entre o sul, sob domínio da corte católica espanhola, e as províncias do norte, protestantes. A inexistência da devoção a imagens nos cultos protestantes desvinculou a Arte da Igreja. Para além disso, a ausência nas Províncias Unidas de uma cultura palaciana propiciou o desenvolvimento de uma arte mais singela e de temáticas do quotidiano da classe média , diferente da monumentalidade e dos temas eruditos (históricos e mitológicos) da arte do sul.”
Citação de uma passagem de um texto encontrado na Internet : “A nova ordem que se instaurou nos Países Baixos a partir da trégua, firmada em 1609, trouxe diferenças culturais importantes entre o sul, sob domínio da corte católica espanhola, e as províncias do norte, protestantes. A inexistência da devoção a imagens nos cultos protestantes desvinculou a Arte da Igreja. Para além disso, a ausência nas Províncias Unidas de uma cultura palaciana propiciou o desenvolvimento de uma arte mais singela e de temáticas do quotidiano da classe média , diferente da monumentalidade e dos temas eruditos (históricos e mitológicos) da arte do sul.”
Uma vez que, nas nossas Comunidades, fazemos sempre leituras complementares – que deixo, evidentemente, ao critério de cada leitor(a)- atrevo-me a sugerir, para quem se interessa por este período ( o século XVII nos Países Baixos) três livros muito interessantes:
1º - “A Febre das Túlipas” de Deborah Moggach, edição portuguesa da Asa, um romance sobre o “boom” económico relacionado com as túlipas (e não só) que deu origem à construção de grandes fortunas, alterou a sociedade e o gosto e permitiu o mecenato de artistas.
2 – “Girl in Hyacinth Blue” de Susan Vreeland, outro romance que foca, também, a vida de Vermeer e a hipótese da existência de mais um quadro, o 26º, que poderia ser da sua autoria e que se chamaria exactamente “Girl in Hyacinth Blue”. Tudo é possível, uma vez que a discussão sobre a autoria dos seus quadros e as peculiaridades da sua pintura continuam em aberto.
3 – Para quem deseja saber (ainda) mais, recomendo a leitura do estudo “Vermeer and His Milieu: A Web of Social History” de John Michael Montias, considerada a melhor obra sobre o artista cuja vida e obra continuam cheias de mistérios.
1º - “A Febre das Túlipas” de Deborah Moggach, edição portuguesa da Asa, um romance sobre o “boom” económico relacionado com as túlipas (e não só) que deu origem à construção de grandes fortunas, alterou a sociedade e o gosto e permitiu o mecenato de artistas.
2 – “Girl in Hyacinth Blue” de Susan Vreeland, outro romance que foca, também, a vida de Vermeer e a hipótese da existência de mais um quadro, o 26º, que poderia ser da sua autoria e que se chamaria exactamente “Girl in Hyacinth Blue”. Tudo é possível, uma vez que a discussão sobre a autoria dos seus quadros e as peculiaridades da sua pintura continuam em aberto.
3 – Para quem deseja saber (ainda) mais, recomendo a leitura do estudo “Vermeer and His Milieu: A Web of Social History” de John Michael Montias, considerada a melhor obra sobre o artista cuja vida e obra continuam cheias de mistérios.
domingo, 30 de novembro de 2008
Centenário de Claude Lévi-Strauss
30 Novembro 2008
Imagem © Gaillarde Raphael/ Gamma
Na última sessão da Comunidade de Leitores na Culturgest falámos de Claude Lévi-Strauss. A nossa antropóloga presente disse-nos que ele está ultrapassado e que já ninguém fala dele. Como fundador da Antropologia Estruturalista tornou-se um pensador fora de moda. Os seus grandes interesses na vida - marxismo, psicanálise e geologia - não estão entre as disciplinas mais "apelativas". Alguém lhe chamou o "último antropólogo romântico".
Confesso que não reli, recentemente, nenhum dos seus livros - não sei qual será, agora, a minha reacção - mas recordo que "Tristes Tropiques" ( 1955), principalmente, me impressionou muitíssimo. Vou relê-lo, logo que possa. Na verdade, o senhor fez 100 anos no dia 28 de Novembro - há dois dias - juntando-se a Manoel de Oliveira neste estranho (penso eu) acontecimento que é celebrar o seu próprio centenário, vivo e alerta.
As comemorações foram escassas. Em Portugal, reparei que o Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa organizou um colóquio no Instituto Franco-Português, no início de Novembro. A França também celebra uma das suas importantes figuras,embora Lévi-Strauss tenha nascido em Bruxelas e vivido nos Estados Unidos - exilado durante a Guerra, uma vez que era judeu - e no Brasil durante largas temporadas.
Para quem lê bem em inglês aqui vai o link para um texto do New York Times
E aconselho a leitura da sua Biografia - Claude Lévi-Strauss por Catherine Clément, Presses Universitaires de France, 2003
A propósito, também se comemora o centenário do nascimento de Maurice Merleau-Ponty, o filósofo fenomenologista francês, nascido em Rochefort-sur-Mer, a 14 de Março de 1908 - morreu em 1961.
«Se me tornei antropólogo é porque as outras sociedades me interessavam mais do que a minha» Claude Lévi-Strauss
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Centenário - Claude Lévi-Strauss
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
A Próxima Comunidade de Leitores
Uma vez que é difícil encontrar os livros, aqui vai, com antecedência, a proposta para a próxima Comunidade de Leitores , na Culturgest, que começa em Janeiro de 2009. Não se esqueçam que devem inscrever-se. Consultem o site da Culturgest para a Programação completa. http://www.culturgest.pt/
Tema: “O Dinheiro e/ou a Felicidade?” Janeiro a Março, 2009, Lisboa.
Nesta época “de crise”, como convivemos com o dinheiro ( ou com a sua falta)? Estarão o dinheiro e a felicidade estreitamente ligados? Anthony Trollope, no séc.XIX inspirou-se em escândalos financeiros para contar, em “The Way We Live Now”, (1875), várias histórias – entre elas a de Lady Carbury que recorre à escrita para sobreviver e manter a sua “reputação” - que ilustram a corrupção económica, moral, política e intelectual, do seu tempo. Durante os sécs. XVIII e XIX, esta questão foi alvo de escrutínio por parte de pensadores e analistas económicos. Em “Cândido” (1759), Voltaire remete a felicidade, enigmaticamente, para a forma como “cultivamos o nosso próprio jardim” e critica asperamente o consumismo desregrado. Do século XVIII para o XIX, o dinheiro – heranças, investimentos, especulações – foi o centro das atenções como nos mostra William Thackeray em “Barry Lyndon” (1844) e “Vanity Fair” (1848), dois romances que satirizam uma sociedade dependente do “vil metal”, recuperando a tradição picaresca de Henry Fielding ( “Tom Jones”, 1749).
Nesta Comunidade, começaremos por Alain de Botton e a sua análise do conceito de “status” contemporâneo, cuja fragilidade se revelou no “crash” económico recente. Com Amis, revisitaremos um clássico que ilustra os excessos dos anos 80 (séc. XX) e, com Fitzgerald, mergulharemos em plena nostalgia de um breve tempo de abundância. Henry James mostra-nos o lado sombrio do dinheiro e o seu poder manipulador, o que acontece, também, na recordação de Duras, condenada a uma pobreza abjecta na remota Indochina. Para terminar, Jane Austen revela a sua atitude em relação ao dinheiro no seu romance mais inquietante. Através destas leituras discutiremos o lugar dos bens materiais na vida dos seres humanos os quais, afinal, parecem não ter mudado muito, ao longo dos tempos.
28 Janeiro - “Status. Ansiedade”, Alain de Botton, Ed. Dom Quixote
11 Fevereiro - “Money” Martin Amis , Ed. Teorema
25 Fevereiro - “O Último Magnate ”, Scott Fitzgerald, Ed. Relógio D’Água
4 Março - “Washington Square”, Henry James, Ed. Europa-América , Ed. Estampa como “A Herdeira”
18 Março - “Uma Barragem Contra o Pacífico”, Marguerite Duras, Ed. Difel
25 Março - “O Parque de Mansfield” Jane Austen, Ed. Europa-América
Tema: “O Dinheiro e/ou a Felicidade?” Janeiro a Março, 2009, Lisboa.
Nesta época “de crise”, como convivemos com o dinheiro ( ou com a sua falta)? Estarão o dinheiro e a felicidade estreitamente ligados? Anthony Trollope, no séc.XIX inspirou-se em escândalos financeiros para contar, em “The Way We Live Now”, (1875), várias histórias – entre elas a de Lady Carbury que recorre à escrita para sobreviver e manter a sua “reputação” - que ilustram a corrupção económica, moral, política e intelectual, do seu tempo. Durante os sécs. XVIII e XIX, esta questão foi alvo de escrutínio por parte de pensadores e analistas económicos. Em “Cândido” (1759), Voltaire remete a felicidade, enigmaticamente, para a forma como “cultivamos o nosso próprio jardim” e critica asperamente o consumismo desregrado. Do século XVIII para o XIX, o dinheiro – heranças, investimentos, especulações – foi o centro das atenções como nos mostra William Thackeray em “Barry Lyndon” (1844) e “Vanity Fair” (1848), dois romances que satirizam uma sociedade dependente do “vil metal”, recuperando a tradição picaresca de Henry Fielding ( “Tom Jones”, 1749).
Nesta Comunidade, começaremos por Alain de Botton e a sua análise do conceito de “status” contemporâneo, cuja fragilidade se revelou no “crash” económico recente. Com Amis, revisitaremos um clássico que ilustra os excessos dos anos 80 (séc. XX) e, com Fitzgerald, mergulharemos em plena nostalgia de um breve tempo de abundância. Henry James mostra-nos o lado sombrio do dinheiro e o seu poder manipulador, o que acontece, também, na recordação de Duras, condenada a uma pobreza abjecta na remota Indochina. Para terminar, Jane Austen revela a sua atitude em relação ao dinheiro no seu romance mais inquietante. Através destas leituras discutiremos o lugar dos bens materiais na vida dos seres humanos os quais, afinal, parecem não ter mudado muito, ao longo dos tempos.
28 Janeiro - “Status. Ansiedade”, Alain de Botton, Ed. Dom Quixote
11 Fevereiro - “Money” Martin Amis , Ed. Teorema
25 Fevereiro - “O Último Magnate ”, Scott Fitzgerald, Ed. Relógio D’Água
4 Março - “Washington Square”, Henry James, Ed. Europa-América , Ed. Estampa como “A Herdeira”
18 Março - “Uma Barragem Contra o Pacífico”, Marguerite Duras, Ed. Difel
25 Março - “O Parque de Mansfield” Jane Austen, Ed. Europa-América
Estamos a terminar duas Comunidades de Leitores - uma na Culturgest, outra na Biblioteca de Évora. O tema foi :
Linguagem Literária e Linguagem Pictórica
1ª Sessão – O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, Ed. Dom Quixote
2ª Sessão – A Ronda da Noite, Agustina Bessa Luís, Guimarães Editores
3ª Sessão – Retrato do Artista Quando Jovem, James Joyce, Ed. Difel
4ª Sessão – Golpe de Mestre, Michael Frayan, Ed. Asa
5ª Sessão – Possessão, Antonia S. Byatt, Sextante Editora
6ª Sessão – Rapariga com Brinco de Pérola, Tracy Chevalier, Ed. Quetzal
“Toda a Arte é imoral“, como disse Oscar Wilde? Ou será uma “amante ciumenta” como afirmou Ralph Waldo Emerson? Exigirá a “supressão do eu” como escreveu melancolicamente Henry James? Ou fará desaparecer tudo o que é desagradável, por estabelecer “a relação perfeita entre a verdade e a beleza”, na opinião optimista do poeta John Keats?
Uma vez que escrever é uma Arte e que outras artes são atravessadas pela Literatura, o que acontecerá quando acontece esta auspiciosa fusão?
Ao longo da leitura destas obras tentaremos descobrir a forma como, tanto através da escrita como através da pintura ou do desenho, os artistas nos “contam histórias”, oferecendo pistas, enigmas e ilusão, à medida que se desvendam a si próprios e nos facultam a chave para a compreensão da sua arte e do seu tempo.
Com Wilde exploraremos o poder da representação narcísica ( Dorian Gray passou a ser nome de síndrome) e com Joyce a mestria de um exercício de auto - conhecimento. Com Agustina, Frayan e Chevalier exploraremos a época de ouro da pintura flamenga dos séculos XVI e XVII e as grandes transformações sociais dessa época. Breugel e o seu dramático tempo, quando os Países Baixos lutavam contra a coroa espanhola, é o centro do delirante livro de Frayan, enquanto Rembrandt é o de Agustina e Vermeer o de Tracy Chevalier. Quanto à obra de Byatt, embora trate essencialmente da poesia vitoriana, está indissoluvelmente ligada ao movimento artístico pré-rafaelita de (entre outros) Dante Gabriel Rossetti.
As “pontes” - mas também as cisões - entre a linguagem literária e a linguagem pictórica serão o pretexto para as nossas leituras.
© Helena Vasconcelos
Falta-nos apenas uma sessão, a que é dedicada a Tracy Chevalier. Depois, faremos um intervalo, até finais de Janeiro.
Linguagem Literária e Linguagem Pictórica
1ª Sessão – O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, Ed. Dom Quixote
2ª Sessão – A Ronda da Noite, Agustina Bessa Luís, Guimarães Editores
3ª Sessão – Retrato do Artista Quando Jovem, James Joyce, Ed. Difel
4ª Sessão – Golpe de Mestre, Michael Frayan, Ed. Asa
5ª Sessão – Possessão, Antonia S. Byatt, Sextante Editora
6ª Sessão – Rapariga com Brinco de Pérola, Tracy Chevalier, Ed. Quetzal
“Toda a Arte é imoral“, como disse Oscar Wilde? Ou será uma “amante ciumenta” como afirmou Ralph Waldo Emerson? Exigirá a “supressão do eu” como escreveu melancolicamente Henry James? Ou fará desaparecer tudo o que é desagradável, por estabelecer “a relação perfeita entre a verdade e a beleza”, na opinião optimista do poeta John Keats?
Uma vez que escrever é uma Arte e que outras artes são atravessadas pela Literatura, o que acontecerá quando acontece esta auspiciosa fusão?
Ao longo da leitura destas obras tentaremos descobrir a forma como, tanto através da escrita como através da pintura ou do desenho, os artistas nos “contam histórias”, oferecendo pistas, enigmas e ilusão, à medida que se desvendam a si próprios e nos facultam a chave para a compreensão da sua arte e do seu tempo.
Com Wilde exploraremos o poder da representação narcísica ( Dorian Gray passou a ser nome de síndrome) e com Joyce a mestria de um exercício de auto - conhecimento. Com Agustina, Frayan e Chevalier exploraremos a época de ouro da pintura flamenga dos séculos XVI e XVII e as grandes transformações sociais dessa época. Breugel e o seu dramático tempo, quando os Países Baixos lutavam contra a coroa espanhola, é o centro do delirante livro de Frayan, enquanto Rembrandt é o de Agustina e Vermeer o de Tracy Chevalier. Quanto à obra de Byatt, embora trate essencialmente da poesia vitoriana, está indissoluvelmente ligada ao movimento artístico pré-rafaelita de (entre outros) Dante Gabriel Rossetti.
As “pontes” - mas também as cisões - entre a linguagem literária e a linguagem pictórica serão o pretexto para as nossas leituras.
© Helena Vasconcelos
Falta-nos apenas uma sessão, a que é dedicada a Tracy Chevalier. Depois, faremos um intervalo, até finais de Janeiro.
"Answered Prayers":
Não resisto aos pedidos das minhas amigas e dos meus amigos que sugeriram mais informação sobre a Comunidade de Leitores que formamos na Culturgest, em Lisboa. Eu, que sou (era) avessa a blogues, acabei por me deixar conquistar. Tenho de admitir que esta forma de saber de nós é bastante eficaz.
Este blogue é, por isso, dedicado à leitura e às nossas discussões e troca de informações.
Dirijo Comunidades de Leitores há quase uma década e é tempo de partilhar as nossas notas, questões, opiniões.
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