sábado, 31 de janeiro de 2009

De volta ao mundo do blog

O Feng a conversar com a Carlota

Estive mais de uma semana sem ligação à Internet. Fez-me muita falta. Este universo fantástico total, global, já há muito que faz parte do meu quotidiano. Hoje, finalmente, os fios ligaram-se , a comunicação restabeleceu-se, as palavras recomeçaram a voar. VOLTEI.
Reparei que há várias pessoas que seguem a "leituraemcomunidade" e, ao tentar conhecê-los, apercebi-me de que há grandes fãs da leitura e também de animais, cães, gatos, etc. Uma paixão que partilho. Poderão dizer-me que esse facto nada tem a ver com a leitura. Nada de mais errado. Tanto para ler como para escrever, é indispensável ter um animal por perto. Em geral escrevo com um cão deitado aos meus pés e 4 gatos em cima da secretária, entre o teclado e o monitor do computador. Para ler, nada melhor do que os ter ao colo, embora sejam irritantes quando tentam “ler” também e se interpõem entre os meus olhos e as páginas. Mas o que hei-de fazer?
Outro aspecto interessante prende-se com a quantidade de livros que têm sido publicados recentemente, em que entram animais. Parece que nunca acaba a nossa perplexidade e encantamento no que diz respeito às relações afectivas entre nós e essas fascinantes criaturas. A Virginia Woolf lá sabia porque é que escolheu escrever sobre Flush - nada menos do que uma Biografia - o companheiro canino da poeta Elizabeth Barrett Browning. Este cocker spaniel tornou-se uma figura essencial para a compreensão da vida da poeta e da sua obra. "Para Flush a poesia estava toda nos cheiros, enquanto que para Elizabeth, eram necessárias as palavras"....

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Formar Leitores Para Ler o Mundo




Formar Leitores Para Ler o Mundo

É este o tema abordado ao longo do Congresso promovido pela Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, que termina hoje, 23 de Janeiro, 2009 e que funcionou em rede com a Direcção Geral do Livro e das Bibliotecas.
Foi-me pedido pela DGLB, na pessoa de António Prole, um depoimento com algumas ideias que fossem ao encontro desta temática.


Uma vez que este blog é vocacionada para a leitura, resolvi publicar o texto enviado. É possível que tudo o que refiro já exista e não seja original. Mas aqui fica o que me veio à cabeça. Pode ser que sirva para alguma coisa:

Tudo o que posso referir sobre este tema baseia-se em:
1º - A minha já longa experiência como leitora – sôfrega, assídua, crítica, apaixonada.
2º - O facto de ser uma estudiosa, tão atenta quanto possível, de Literatura.
3º - Aquilo que tenho aprendido, e continuo a aprender, em todos os trabalhos que tenho levado a cabo no âmbito da leitura: Comunidades de Leitores, Leituras Encenadas, Workshops de Leitura, etc.

Estas experiências têm contribuído para uma visão optimista na formação "para ler o mundo". Estou convencida de que a leitura está, cada vez mais, a atingir vastas camadas do que se convencionou chamar "público" - um "público" que , afinal, somos todos nós. Não partilho o pessimismo de muita gente que acha que as novas gerações são mais ignorantes do que as anteriores. Para além de ser um estrondoso “chavão”, tenho verificado que acontece o contrário: cada vez há mais gente a ler e a ler melhor. Quero dizer que se estão a ver os frutos de um trabalho de fundo que tem propiciado esta situação. Exposições como a recente “Weltliteratur” na Fundação Gulbenkian, ou como as da Biblioteca Nacional, a intervenção mais dinâmica de escritores e escritoras na sociedade, na rex publica, e a sua aparição junto de leitores – em lançamentos de livros, conferências, palestras, etc. – contribuíram para diminuir o fosso que existia entre o público e os autores. Existe, também, um trabalho de divulgação da leitura - Plano Nacional de Leitura, trabalho aturado de editores e livreiros - que já está a chegar às gerações mais recentes e a sensibilizar aqueles que ainda resistem aos livros.

Livrarias:
A época das megas livrarias parece já ter perdido o impacto dos últimos anos. É claro que exemplos como o da Fnac tiveram e continuam a ter uma enorme importância no processo da dessacralização do livro. Haver um lugar onde há de tudo e onde as pessoas entram facilmente, foi óptimo para quebrar barreiras. Mas um público cada vez mais exigente irá certamente procurar, também, as livrarias especializadas, as livrarias "diferentes" como as que já existem um pouco por todo o País. Será necessária, cada vez mais, a especialização e a profissionalização dos livreiros. O sentido crítico e as informações dos leitores são cada vez maiores e melhores. Proponho, por isso, que se aposte na formação de livreiros – e livreiras, claro – pessoas que saibam o que pode ser importante para alguém que vem à procura de livros. Tem-se verificado um trabalho muito importante por parte das editoras que passaram a promover os livros com técnicas diversificadas, adequadas a cada situação e com uma sensibilidade mais específica e apurada. Existe uma enorme diversidade que só pode ajudar a difundir a leitura e os livros. As editoras têm um selo, uma chancela que reflectem a escolha dos seus directores e orientadores. Gostaria que se passasse para um estádio seguinte, nesta cadeia que vai desde o escritor (a) até ao leitor(a): a de formação de quem está nas livrarias a vender livros.

Formação de assistentes de livreiros :
Pensei em módulos de formação muito simples, mas creio que eficazes, para que fosse possível um aconselhamento e uma orientação por parte dos vendedores directos de livros em relação a quem os procura, seja para fins profissionais, seja para fins recreativos. Estas pessoas estariam em estreito contacto com todas as editoras e teriam de estar bem informadas em relação a críticas e a apreciações sobre as obras que fossem vender. Teriam, ainda, de saber lidar com os leitores, não interferindo nos seus gostos mas aconselhando e orientando. Acontece-me muitas vezes – salvo raras e muito honrosas excepções – entrar numa livraria e perguntar por um livro que não está à vista. Na maior parte das vezes, a pessoa que me está a atender limita-se a consultar o computador à sua frente e a dizer, “sim”, “não” com absoluto desprendimento. Ora, esta postura não serve os leitores.

Plano Nacional de Leitura para seniores:
Gostaria de ver um Plano Nacional de Leitura para pessoas mais velhas. Nas Comunidades de Leitores acontece-me encontrar muita gente que diz não ter tido tempo para ler como desejariam durante a sua vida profissional activa e que, quando se retiram ou reformam recorrem à leitura mais aprofundada com um prazer redobrado . Estas pessoas poderiam ser aproveitadas para fazer palestras em escolas e universidades, em hospitais e prisões. Por exemplo. O trabalho feito pelo actual PNL é óptimo e compreendo que se tenha centralizado e começado pelas crianças e pelos jovens. São eles que mais necessitam e que irão determinar o futuro da leitura e do livro. Por isso nunca serão demais os louvores tecidos às acções do Plano Nacional de Leitura e a todas as outras iniciativas que promovem a leitura e, principalmente, despertam a paixão e a necessidade de ler, ao longo de toda a vida. Partilho a opinião de que se devem criar hábitos de leitura desde a mais tenra idade, logo que se aprende a ler. Subscrevo a aposta num ou mais cânones que deverão acompanhar as várias idades do ser humano. É uma forma de cumplicidade e partilha. Quem já leu “A Ilha do Tesouro”, “Alice no País das Maravilhas” e Homero, Virgílio, Cervantes, Shakespeare, Camões, Gil Vicente, Kafka, Thomas Mann, Virginia Woolf, Fernando Pessoa, etc, etc. etc terá sempre algo em comum com as outras pessoas que tiveram o prazer e a excitação de ler as mesmas obras. Por isso, a leitura é um grande ponto de encontro, uma grande distribuição de informação na “forma de ler o mundo” entre pessoas, em todo o lado.

Rede de aprendizagem da Leitura:
Uma outra acção que me parece ainda incipiente – apesar dos esforços louváveis do Instituto Camões – estaria relacionada com um intercâmbio mais dinâmico e alargado entre a DGLB, outras instituições e as Universidades espalhadas pelo mundo que possuem um Departamento de Estudos Portugueses. Proponho uma espécie de “Programa Erasmus” só para o livro e a leitura, uma rede mundial de formação a todos os níveis, no âmbito de tudo o que se relacionasse com esta área. Este Programa poderia ser financiado pela União Europeia – e não sei se não haverá já algo assim…

Comunidades de Leitores:
Finalmente, tenho de referir as Comunidades de Leitores que tenho dirigido. A experiência não pode ser mais positiva e gostaria de avançar para novas experiências, mantendo, no entanto, os grupos que já foram criados. (De notar que o nível de exigência destes leitores e leitoras cresce de sessão para sessão, o que obriga a um saudável e pertinente trabalho de pesquisa e de referência a leituras paralelas, o que enriquece muito estas acções.)
Para terminar, creio que – apesar da crise e até, por causa dela – a leitura será sempre a grande opção para o enriquecimento individual e colectivo. Nenhuma das outras artes pode passar sem a leitura. E nenhuma outra ocupação é tão duradoura e abrangente como essa actividade. E apesar das queixas quanto ao preço dos livros, fica normalmente tão ou mais caro ir a um espectáculo ou a uma exposição - que não dispensam uma leitura de apoio ... Elementar, meus caros!

sábado, 17 de janeiro de 2009


Tereza Coelho

Acabei de receber uma notícia muito triste. Morreu esta manhã a escritora, jornalista, editora e minha amiga, Tereza Coelho. Estou em choque, naquele estado de incompreensão e negação que sentimos nestes casos. Não via a Tereza há algum tempo. Liguei-lhe no Natal mas ninguém atendeu e eu deixei uma mensagem. Não fiquei preocupada, a Tereza responderia quando pudesse. Soube hoje que foi no Natal que ela foi para o hospital, com uma pneumonia. (E eu na minha azáfama de todos os dias!).

Quero falar-vos da Tereza: conhecemo-nos há mais de 30 anos. Tínhamos gostos semelhantes no que diz respeito à literatura. Adorávamos falar de livros e competíamos para sermos as primeiras a conhecer aquelas obras de que nem sequer se sonhava, por cá. Nessa altura, ela era das pouquíssimas pessoas, em Portugal, que sabia muito sobre a literatura de expressão anglo-saxónica e que estava ao par do que se publicava nos Estados Unidos e em Inglaterra. Era bom poder falar com ela, trocar informações e ideias. Era, ainda, das poucas pessoas interessadas a sério nos Estudos Femininos, de uma forma dinâmica e de acordo com o passar dos tempos. Quando a escolheram para dirigir a revista ELLE - que ia começar cá em Portugal - convidou-me para colaborar com ela. Quando o jornal Público começou, ela chamou-me para o suplemento cultural. Quando foi para - o já extinto - jornal O Independente, fui atrás dela. E por aí fora. Acompanhámo-nos uma à outra nos revezes e nas alegrias da vida. Quando se casou com o Rui Cardoso Martins, a festa, no Alentejo, foi tão maravilhosa que a marquei na minha vida como a última em que me diverti, realmente.
E tínhamos muitos amigos e amigas em comum. A Tereza era uma mulher muito especial: leal, boa profissional, exigente, sem preconceitos, pragmática mas psicologicamente complexa. Fascinante e surpreendente. Aprendi muito com ela apesar de eu ser 10 anos mais velha. Aliás, invejava-lhe a amizade com a Marguerite Duras - de quem ela era a tradutora portuguesa - e com outros grandes escritores que eu admiro. A Tereza começou tão nova e tornou-se logo uma profissional de topo, com uma segurança extraordinária. Era uma crítica literária com enorme bagagem intelectual, segura e certeira; como editora era exigente e perfeccionista; como escritora, foi eclética e nada convencional. Tinha outra característica pouco comum nas mulheres portuguesas: nunca a ouvi queixar-se ou lamentar-se. Não se entregava à auto-piedade e preferia uma ironia muito inteligente e muito fina. Admirava nela essa faceta bem como a coragem para vencer doenças, para mudar de trabalho - saiu do jornalismo e foi para a edição - para levar a sua vida sem sentimentalismos. Era maravilhosa com o marido e com os filhos. E fez parte da minha vida - quando éramos as duas novas, cheias de energia e de ideias e enquanto crescemos. Ela era demasiado nova para morrer.
Sinto muito a sua falta.

A Tereza disse: «Pessoalmente, gostaria que as mulheres parassem de contar a vida delas, que ser escritor não fosse uma obsessão nacional e que se tornasse mais difícil publicar.» Sábias e desassombradas palavras.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Notícias


13 Janeiro, 2009
Já escrevi o texto para o Público sobre "A Arte da Alegria" da Goliarda Sapienza. Mas atenção que o livro só irá sair no fim deste mês de Janeiro.
Também já comecei a trocar impressões com as leitoras e os leitores da próxima Comunidade de Leitores. O primeiro livro é, como já sabem, "Status. Ansiedade" de Alain de Botton. Lembrei-me que o entrevistei em 2005, em Lisboa, a propósito da publicação, em Portugal, desta obra. Se tiverem curiosidade, essa entrevista está na minha revista na http://www.storm-magazine.com/. Vão ao Arquivo e procurem por autor - Helena Vasconcelos; o título do texto é A Vida sob a Influência. Divirtam-se, como diria o Cristiano Ronaldo...

domingo, 4 de janeiro de 2009

De regresso e o fim de Harold Pinter

4 de Janeiro, 2009

Já acabei o livro de Goliarda Sapienza, "A Arte da Alegria". Agora tenho que escrever a recensão para o Público. A segunda parte entusiasmou-me menos mas, no total, não deixou de ser uma leitura interessante.


Entretanto, em Dezembro, morreu Harold Pinter, em Londres, aos 78 anos. Era um dos meus dramaturgos preferidos, quando andava pelos meus 30, 40 anos. Agora, há muito tempo que não leio as suas peças nem as vejo representadas. (E lembrar-me eu de largas doses "pintereanas" quando ia a Londres e corria a ver Teatro...!) Aproveito para lembrar que , em Portugal, há pouca coisa publicada deste Prémio Nobel (2005). Descobri "Teatro I" e "Teatro II" da Relógio D'Água e "Os Anões e Outras Peças" da Quasi Editores.
James Fox e Dirk Bogarde em "The Servant"

Pinter foi o escritor que colocou em cena tudo o que é terrível e vergonhoso nas relações quotidianas, fazendo realçar o tremendo ruído dos silêncios. Não poupava nem homens nem mulheres e responsabilizava-os pelos confrontos e violência ( física, psicológica) dentro das relações amorosas e familiares. Das mais de 30 peças de teatro que escreveu, destaco “The Birthday Party,” “The Caretaker,” “The Homecoming” and “Betrayal” . Foi ainda actor, ensaísta, poeta e guionista para além de ter sempre defendido a liberdade de expressão e lutado contra qualquer tipo de censura. O seu profundo envolvimento com o cinema traduziu-se no trabalho com Joseph Losey que começou em 1963 com "The Servant". Seguiu-se "Accident" (1967) e "The Go-Between" (1971) uma adaptação do romance de J.P. Hartley. Era casado com a historiadora e biógrafa Lady Antonia Fraser.
Embora o teatro de Pinter seja um retrato - que nos parece já bastante longínquo - da sociedade do século XX, talvez algum (uns) dos nossos directores teatrais tenham curiosidade em pegar nas suas peças. Agora.
Gostaria de organizar uma Comunidade de Leitores dedicada ao Teatro. Ler peças é complicado mas muito compensador. Recordo quando lemos "Hamlet", na Culturgest... Nem todos tiveram paciência mas os que a tiveram, ficaram bastante satisfeitos.