quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ligações Perigosas


Estou a (re)ler "Ligações Perigosas" ( 1782) de Choderlos de Laclos para a próxima sessão da Comunidade. Devo confessar que estou um pouco entediada. Mas vou avançar. Dentro em breve escreverei aqui alguma coisa que sirva de pistas de leitura. Lembrei-me que poderíamos ler , também, as cartas de Soror Mariana Alcoforado, a desavergonhada freira que se antecipou a tudo isto. E referir o Marquês de Sade. A época é a mesma. Ah! E podíamos ler a adaptação do Heiner Müller, de 1981, chamada "Quartet".

Fiquemo-nos, por agora, com a imagem de Fragonnard.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Quinta-Feira, dia 21 Janeiro 2010 é dia de Romeu e Julieta


19 Janeiro 2010

Vamos iniciar uma nova edição da Comunidade de Leitores na Culturgest com a leitura de “Romeu e Julieta” de William Shakespeare. Não poderíamos começar melhor. Se há texto que melhor exprime o ardor juvenil do amor e a força da paixão que se sobrepõe a todos os obstáculos, temo-lo entre as nossas mãos.
É claro que este amor tão intenso e tão puro está condenado desde o início e o destino de ambos – “the star-crossed lovers” – está selado.
A história encontra-se toda no Prólogo:
"Two households, both alike in dignity,In fair Verona, where we lay our scene,From ancient grudge break to new mutiny,Where civil blood makes civil hands unclean.From forth the fatal loins of these two foesA pair of star-cross'd lovers take their life;"

Na cidade de Verona, duas famílias (casas) de alta linhagem mantêm uma longa e feroz guerra que mancha de sangue a comunidade. Romeu e Julieta atravessam este campo de batalha, com o seu “amor proibido” sedentos um do outro, animados por uma força que os transcende e que os levará à morte.
Sabemos quais foram as fontes de Shakespeare para compor esta peça. De acordo com Harold Bloom não podemos esquecer Chaucer, principalmente “Troilus e Créssida” escrito entre 1374 e 1386.
De acordo com Bloom em “The Invention of the Human," Shakespeare e Geoffrey Chaucer encaravam o amor e a morte da mesma forma: "Love dies or else lovers die: these are the pragmatic possibilities for the two poets, each of them experientially wise beyond wisdom" . Quanto a Shakespeare, Bloom observa que dramaturgo mais depressa mataria os amantes do que o próprio Amor e Romeu e Julieta servem de exemplo perfeito, para esta ideia.
Questões:
- Quais as diferenças de carácter entre Romeu e Julieta? O que é que os atrai imediatamente?
Julieta : "My bounty is as boundless as the sea, My love as deep."

E Romeu, quando a vê no esplendor da sua casa:
"What lady's that which doth enrich the hand

Of yonder knight? O she doth teach the torches to burn bright;

Her beauty hangs upon the cheek of night,

Like a rich jewel in an Ethiop's ear."
Será possível pensar que o amor de ambos continuaria a ser tão fecundo – referência constante a flores “blooming” – se tivessem sobrevivido?
- Poderá a impossibilidade do amor servir de aguilhão que os mantém numa ansiedade erótica?
- Poderemos comparar o par Romeu e Julieta com Tristão e Isolda, a narrativa fundadora do amor no Ocidente?

- Será que a espada que Tristão e Isolda colocam entre eles quando estão adormecidos no bosque – e são surpreendidos pelo rei Mark, marido de Isolda? – representa também um impedimento que mantém viva a chama do desejo?

- E quanto ao par Dante e Beatriz, poderá haver semelhanças ou são histórias totalmente distintas?
- Será que tal como em Dante, em Romeu e Julieta se aplica a “religião do amor”?
- Compare-se Mercutio com Romeu? O que os separa e o que os une?
- Que papel desempenham a Ama e o Frade, figuras bem menos nobres de sentimentos?
- Como encarar o ambiente – e a importância – familiar dos Montague e dos Capuletos?

Muito mais será dito e discutido na quinta-feira. Espero que esta pequena amostra vos sirva de incentivo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Próxima Comunidade Leitores na CULTURGEST

Já me chamaram a atenção por andar tão preguiçosa em relação ao blog. Por isso, aqui fica a indicação dos livros com os quais nos iremos deliciar na próxima Comunidade de Leitores na Culturgest, em Lisboa.
Uma Comunidade dedicada ao tema do AMOR com início a 21 de Janeiro, 2010. Sempre às 18:30 h
* Inscrições até 15 de Janeiro (limite 40 pessoas) na bilheteira da Culturgest, pelo telf. 21 7905155, pelo fax 21 7905154 ou pelo e-mail culturgest.bilheteira@cgd.pt.)
Informações 21 790 51 55culturgest.bilheteira@cgd.pt

Imagem : Detalhe de "O Rapto de Proserpina" de Gian Lorenzo Bernini, 1621-22

O que é o Amor? Perguntem a quem vive o que é a vida ; perguntem a quem adora o que é Deus? in Sobre o Amor, Percy Shelley


O Amor, tal como o entendemos no mundo ocidental, só apareceu na nossa cultura a partir do século XI, na forma do celebrado “amor cortês”. É o que propõe Denis de Rougemont no clássico O Amor e o Ocidente, partindo do mito de Tristão e Isolda. Secundado, mais drasticamente, pelo autor católico C.S. Lewis em A Alegoria do Amor (1936) e por outros pensadores, Rougemont conjuga todas as formas do verbo amar, do amor-paixão ao amor-gosto, do amor físico ao amor-vaidade, passando pelos inúmeros autores que, em Poesia, Romance ou Teatro – para não falar do discurso filosófico – continuam indefinidamente a recriar o sentimento amoroso. Mas o que fazer de textos anteriores como "Fedro" de Platão, como os fragmentos de poemas inflamados de Safo ou como a obra de Ovídio, tão profundamente ligada à celebração do Amor? Sabemos que a influência dos grandes pares míticos – Tristão e Isolda, Heloísa e Abelardo, Romeu e Julieta, Dante e Beatriz, Dom Quixote e Dulcineia – ou de grandes amorosos como Don Juan, Casanova ou Sade, se faz sentir até aos dias de hoje. Os maiores poetas de todos os tempos – Shakespeare e Camões, por exemplo – foram, também, grandes amantes e o Amor nunca abandonou o curso existencial do ser humano: tem estado presente em batalhas e revoluções, em arroubos místicos e carnais, faz o papel de Musa e serve de álibi para actos reprováveis. Nos nossos dias, teóricos como Allan Bloom e, mais recentemente, Christina Nehring – que, no seu apaixonado Uma Reivindicação do Amor para o século XXI, se rebela contra o que lhe parece um desinteresse por esse sentimento, abafado por uma cultura consumista e imediatista – têm continuado a analisar os grandes textos da Literatura amorosa. Para deslindar este longo e tortuoso percurso – do mito à apropriação burguesa, do sentimento romântico ao materialismo do século XX – esta Comunidade de Leitores irá debruçar-se sobre alguns dos clássicos do género.


Helena Vasconcelos

Qui 21 de Janeiro - Romeu e Julieta, William Shakespeare, Ed. Europa-América
Qui 4 de Fevereiro - As Ligações Perigosas, Choderlos de Laclos, Ed. Relógio D’Água
Qui 18 de Fevereiro - O Vermelho e o Negro, Stendhal, Livraria Clássica Editora
Qui 4 de Março- Werther, Johann Wolfgang von Goethe, Guimarães Editores
Ter 16 de Março - O Fardo do Amor, Ian McEwan, Ed. Gradiva
Qui 1 de Abril - O Amor nos Tempos da Cólera, Gabriel Garcia Marquez, Ed. Dom Quixote

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Os Melhores Livros de 2009 (cont.)


Esqueci-me de mencionar um romance - primeira obra - de Maria da Conceição Caleiro, intitulado "O Cão das Ilhas", Ed. Sextante. Foi uma grande surpresa.

Escrevi o seguinte no Público:

«”O Cão das Ilhas” é um livro surpreendente e poderoso, uma tragédia clássica, com fontes gregas e shakespeareanas, a primeira obra de uma autora que escreve com segurança e mestria. A construção da narrativa, a utilização de uma voz (principal) masculina e de três vozes femininas, a passagem de umas para as outras com agilidade e autoridade, a beleza quase onírica de certas imagens fazem deste livro uma obra excepcional [...].» Se quiser ler o resto vá até www.storm-magazine.com e procure em Arquivo

domingo, 3 de janeiro de 2010

Os Melhores Livros de 2009


Os meus autores favoritos: Richard Zimler e Cristina Carvalho. Haverá melhor do que ter amigos que admiramos e amamos pelas suas qualidades como pessoas e, também, como escritores? Até dá gosto...
Fazer listas de livros preferidos do ano que passou é uma tarefa que alguns acham horrível. Pela minha parte, confesso que gosto. Gosto de os recordar, de os colocar juntos na minha cabeça, de reler certas páginas que marquei, de ver as minhas notas...
Quando me pedem, todos os anos, do Jornal, as minhas escolhas, já sei que só serão mencionadas as obras mais "votadas" entre todos os colaboradores. Por isso, escrito por mim, no Ípsilon, só saiu a referência a "O Homem Sem Qualidades", do Musil, Vol III com a magnífica tradução do João Barrento.
Mas aqui, no BLOG, quero fazer a MINHA LISTA. Resta dizer três coisas: primeiro, os títulos foram colocados por ordem de descoberta - ou de data de edição - e não qualitativamente porque gostei de todos com a mesma intensidade por razões diferentes ; segundo, continuo a falhar muito em relação aos escritores portugueses por razões profissionais e só menciono aqui dois, que li com atenção; terceiro, confesso que li mais não-ficção do que ficção, tanta que não cabe aqui mencioná-la. Aborreceria, certamente, os leitores, referir livros que só a mim interessam - provavelmente.
Assim, e depois de tantas explicações, aqui vão as obras que me agradaram mais, que creio serem as melhores, publicadas em Portugal, em 2009:
VENEZA, Jan Morris, Ed. Tinta da China
LOVE, Toni Morrison, Ed. Dom Quixote
2666, Roberto Bolaño, Ed. Quetzal
CONTOS COMPLETOS I , John Cheever, Ed. Sextante
CADERNO AFEGÃO, Alexandra Lucas Coelho, Ed. Tinta da China
OS ANAGRAMAS DE VARSÓVIA, Richard Zimmler, Ed. Oceanos
NOCTURNO, Cristina Carvalho, Ed. Sextante
O ASSASSINO CEGO Margaret Atwood, Ed. Bertrand
A RAINHA NO PALÁCIO DAS CORRENTES DE AR, Stieg Larsson, Ed. Oceanos
ILUSÃO ( OU O QUE QUISEREM), Luisa Costa Gomes, Ed. Dom Quixote
A EDIÇÃO DE LIVROS E A GESTÃO ESTRATÉGICA, José Afonso Furtado, Ed. Booktailors - não ficção
Reedições:
A MONTANHA MÁGICA, Thomas Mann, Ed. Dom Quixote
O HOMEM SEM QUALIDADES, Volume III, Robert Musil, Ed. Dom Quixote
OUTRAS VOZES, OUTROS LUGARES, Truman Capote, Ed. Sextante
AS CONFISSÕES DE NAT TURNER , William Styron, Ed. Bertrand
O que li em 2009 que ainda não está publicado em Portugal e que recomendo vivamente:
A GATE AT THE STAIRS, Lorrie Moore, Ed. Alfred A. Knopf
HALF BROKE HORSES: A True-Life Novel, Jeannette Walls, Ed. Scribner
A SHORT HISTORY OF WOMEN, Kate Walbert, Ed. Scribner
WOLF HALL, Hilary Mantel, Ed. Fourth Estate
THE CHILDREN'S BOOK, A.S. Byatt, Ed. Chatto & Windus
THE AGE OF WONDER: How the Romantic Generation Discovered the Beauty and Terror of Science, Richard Holmes, Ed. Harper Collins - non-fiction
RAYMOND CARVER: A Writer’s Life, Carol Sklenicka, Ed. Scribner - non-fiction.



sábado, 2 de janeiro de 2010

Literatura Masculina




Lembram-se quando se falava aguerridamente em "escrita feminina", em "literatura feminina"? Esse tempo já passou. E agora? A preocupação vai para a sobrevivência da escrita dos homens, daqueles de barba rija e que gostam do "cheiro a napalm pela manhã". No New York Times de 31 de Dezembro do extinto ano de 2009, a escritora KATIE ROIPHE, faz um balanço da escrita de autores "viris" como Roth, Updike, Bellow e outros. Ler tudo em http://www.nytimes.com/2010/01/03/books/review/Roiphe-t.html?ref=review