domingo, 30 de novembro de 2008

Centenário de Claude Lévi-Strauss



30 Novembro 2008


Imagem © Gaillarde Raphael/ Gamma

Na última sessão da Comunidade de Leitores na Culturgest falámos de Claude Lévi-Strauss. A nossa antropóloga presente disse-nos que ele está ultrapassado e que já ninguém fala dele. Como fundador da Antropologia Estruturalista tornou-se um pensador fora de moda. Os seus grandes interesses na vida - marxismo, psicanálise e geologia - não estão entre as disciplinas mais "apelativas". Alguém lhe chamou o "último antropólogo romântico".

Confesso que não reli, recentemente, nenhum dos seus livros - não sei qual será, agora, a minha reacção - mas recordo que "Tristes Tropiques" ( 1955), principalmente, me impressionou muitíssimo. Vou relê-lo, logo que possa. Na verdade, o senhor fez 100 anos no dia 28 de Novembro - há dois dias - juntando-se a Manoel de Oliveira neste estranho (penso eu) acontecimento que é celebrar o seu próprio centenário, vivo e alerta.
As comemorações foram escassas. Em Portugal, reparei que o Centro de Filosofia das Ciências da Universidade de Lisboa organizou um colóquio no Instituto Franco-Português, no início de Novembro. A França também celebra uma das suas importantes figuras,embora Lévi-Strauss tenha nascido em Bruxelas e vivido nos Estados Unidos - exilado durante a Guerra, uma vez que era judeu - e no Brasil durante largas temporadas.
Para quem lê bem em inglês aqui vai o link para um texto do New York Times

E aconselho a leitura da sua Biografia - Claude Lévi-Strauss por Catherine Clément, Presses Universitaires de France, 2003

A propósito, também se comemora o centenário do nascimento de Maurice Merleau-Ponty, o filósofo fenomenologista francês, nascido em Rochefort-sur-Mer, a 14 de Março de 1908 - morreu em 1961.

«Se me tornei antropólogo é porque as outras sociedades me interessavam mais do que a minha» Claude Lévi-Strauss

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

A Próxima Comunidade de Leitores

Uma vez que é difícil encontrar os livros, aqui vai, com antecedência, a proposta para a próxima Comunidade de Leitores , na Culturgest, que começa em Janeiro de 2009. Não se esqueçam que devem inscrever-se. Consultem o site da Culturgest para a Programação completa. http://www.culturgest.pt/


Tema: “O Dinheiro e/ou a Felicidade?” Janeiro a Março, 2009, Lisboa.

Nesta época “de crise”, como convivemos com o dinheiro ( ou com a sua falta)? Estarão o dinheiro e a felicidade estreitamente ligados? Anthony Trollope, no séc.XIX inspirou-se em escândalos financeiros para contar, em “The Way We Live Now”, (1875), várias histórias – entre elas a de Lady Carbury que recorre à escrita para sobreviver e manter a sua “reputação” - que ilustram a corrupção económica, moral, política e intelectual, do seu tempo. Durante os sécs. XVIII e XIX, esta questão foi alvo de escrutínio por parte de pensadores e analistas económicos. Em “Cândido” (1759), Voltaire remete a felicidade, enigmaticamente, para a forma como “cultivamos o nosso próprio jardim” e critica asperamente o consumismo desregrado. Do século XVIII para o XIX, o dinheiro – heranças, investimentos, especulações – foi o centro das atenções como nos mostra William Thackeray em “Barry Lyndon” (1844) e “Vanity Fair” (1848), dois romances que satirizam uma sociedade dependente do “vil metal”, recuperando a tradição picaresca de Henry Fielding ( “Tom Jones”, 1749).
Nesta Comunidade, começaremos por Alain de Botton e a sua análise do conceito de “status” contemporâneo, cuja fragilidade se revelou no “crash” económico recente. Com Amis, revisitaremos um clássico que ilustra os excessos dos anos 80 (séc. XX) e, com Fitzgerald, mergulharemos em plena nostalgia de um breve tempo de abundância. Henry James mostra-nos o lado sombrio do dinheiro e o seu poder manipulador, o que acontece, também, na recordação de Duras, condenada a uma pobreza abjecta na remota Indochina. Para terminar, Jane Austen revela a sua atitude em relação ao dinheiro no seu romance mais inquietante. Através destas leituras discutiremos o lugar dos bens materiais na vida dos seres humanos os quais, afinal, parecem não ter mudado muito, ao longo dos tempos.

28 Janeiro - “Status. Ansiedade”, Alain de Botton, Ed. Dom Quixote
11 Fevereiro - “Money” Martin Amis , Ed. Teorema
25 Fevereiro - “O Último Magnate ”, Scott Fitzgerald, Ed. Relógio D’Água
4 Março - “Washington Square”, Henry James, Ed. Europa-América , Ed. Estampa como “A Herdeira”
18 Março - “Uma Barragem Contra o Pacífico”, Marguerite Duras, Ed. Difel
25 Março - “O Parque de Mansfield” Jane Austen, Ed. Europa-América

Estamos a terminar duas Comunidades de Leitores - uma na Culturgest, outra na Biblioteca de Évora. O tema foi :
Linguagem Literária e Linguagem Pictórica
1ª Sessão – O Retrato de Dorian Gray, Oscar Wilde, Ed. Dom Quixote
2ª Sessão – A Ronda da Noite, Agustina Bessa Luís, Guimarães Editores
3ª Sessão – Retrato do Artista Quando Jovem, James Joyce, Ed. Difel
4ª Sessão – Golpe de Mestre, Michael Frayan, Ed. Asa
5ª Sessão – Possessão, Antonia S. Byatt, Sextante Editora
6ª Sessão – Rapariga com Brinco de Pérola, Tracy Chevalier, Ed. Quetzal

“Toda a Arte é imoral“, como disse Oscar Wilde? Ou será uma “amante ciumenta” como afirmou Ralph Waldo Emerson? Exigirá a “supressão do eu” como escreveu melancolicamente Henry James? Ou fará desaparecer tudo o que é desagradável, por estabelecer “a relação perfeita entre a verdade e a beleza”, na opinião optimista do poeta John Keats?
Uma vez que escrever é uma Arte e que outras artes são atravessadas pela Literatura, o que acontecerá quando acontece esta auspiciosa fusão?
Ao longo da leitura destas obras tentaremos descobrir a forma como, tanto através da escrita como através da pintura ou do desenho, os artistas nos “contam histórias”, oferecendo pistas, enigmas e ilusão, à medida que se desvendam a si próprios e nos facultam a chave para a compreensão da sua arte e do seu tempo.
Com Wilde exploraremos o poder da representação narcísica ( Dorian Gray passou a ser nome de síndrome) e com Joyce a mestria de um exercício de auto - conhecimento. Com Agustina, Frayan e Chevalier exploraremos a época de ouro da pintura flamenga dos séculos XVI e XVII e as grandes transformações sociais dessa época. Breugel e o seu dramático tempo, quando os Países Baixos lutavam contra a coroa espanhola, é o centro do delirante livro de Frayan, enquanto Rembrandt é o de Agustina e Vermeer o de Tracy Chevalier. Quanto à obra de Byatt, embora trate essencialmente da poesia vitoriana, está indissoluvelmente ligada ao movimento artístico pré-rafaelita de (entre outros) Dante Gabriel Rossetti.
As “pontes” - mas também as cisões - entre a linguagem literária e a linguagem pictórica serão o pretexto para as nossas leituras.
© Helena Vasconcelos

Falta-nos apenas uma sessão, a que é dedicada a Tracy Chevalier. Depois, faremos um intervalo, até finais de Janeiro.

"Answered Prayers":

Não resisto aos pedidos das minhas amigas e dos meus amigos que sugeriram mais informação sobre a Comunidade de Leitores que formamos na Culturgest, em Lisboa. Eu, que sou (era) avessa a blogues, acabei por me deixar conquistar. Tenho de admitir que esta forma de saber de nós é bastante eficaz.

Este blogue é, por isso, dedicado à leitura e às nossas discussões e troca de informações.

Dirijo Comunidades de Leitores há quase uma década e é tempo de partilhar as nossas notas, questões, opiniões.