quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Comunidade de Leitores na Biblioteca de Loures

EXPIAÇÃO de Ian McEwan, Ed. Gradiva, Lisboa, 2002

No dia 6 de Janeiro, estarei na Biblioteca Municipal de Loures - Biblioteca José Saramago - para mais uma sessão da Comunidade de Leitores. Vamos discutir "Expiação" de Ian McEwan, um livro de que gosto particularmente e que está associado à vinda a Lisboa do autor, da apresentação que ficou a meu cargo - na Faculdade de Letras de Lisboa (Universidade Clássica) - e de um subsequente jantar numa casa de fados - que McEwan adorou.

Deixo aqui uma citação de um texto sobre este autor que faz parte de uma série de intervenções minhas, dedicadas à Literatura anglo-saxónica, intitulada "Marcas":

"(Com a publicação, em 2001 de "Expiação") ... McEwan surpreendeu todos com um livro que contém em si todas as suas preocupações habituais mas que conta uma história bastante diferente. "Expiação" é um romance contemporâneo com características singulares, um exemplo de como este género literário pode ser extremamente complexo e até erudito, mantendo, no entanto, a faculdade indispensável de estar perto do leitor e de ser reconhecido como género popular. Numa primeira leitura, “Expiação” pode passar por ser mais uma boa história para “distrair”. Ou seja, satisfaz o leitor com os ingredientes habituais: um romance familiar que refere temas como o idílio da infância destroçada, a juventude iluminada pelo amor, a paixão, a violência, a vida, a guerra, a morte, um certo “suspense”, enganos e desenganos, belas paisagens, casas de campo inglesas, lealdades e traições, nobreza de sentimentos e, principalmente, a noção da passagem inexorável do tempo. Mas quem se der ao trabalho de ler com mais atenção descobre que “Expiação” é um romance sobre o romance a começar pela citação de “Northanger Abbey” de Jane Austen, a abrir o livro."

domingo, 26 de dezembro de 2010

Os melhores LIVROS de 2010

Uma vez que creio que há pessoas que compram livros mesmo que já não seja Natal, aqui fica a minha lista, a mesma que entreguei no Jornal Público, Suplemento Ípsilon - balanço do ano 2010.
Os 20 Melhores livros estrangeiros – de realçar as óptimas traduções que valorizam as obras:

LIVROS 2010

Helena Vasconcelos

1- As Aventuras de Augie March, Saul Bellow, Ed. Quetzal
2 - Verão, J.M. Coetzee, Ed. Dom Quixote
3 - Um Traidor dos Nossos, John Le Carré, Ed. Dom Quixote
4 - O Sonho do Celta, Mario Vargas Llosa, Ed. Quetzal
5 - Woolf Hall, Hillary Mantel, Ed. Civilização
6 – Doutor Fausto, Thomas Mann, Ed. D. Quixote
7 - Ao Cair da Noite, Michael Cunningham, Ed. Gradiva
8 – O Quinto da Discórdia – Robertson Davies, Ed. Ahab
9 - Na Sombra do Pai, Richard Russo, Porto Editora
10 - A Beleza e a Tristeza, Yasunari Kawabata, Ed. Dom Quixote
11 – As Serviçais, Kathryn Stockett, Ed. Saída de Emergência
12 - Coluna de Fumo – Denis Johnson, Ed. Casa das Letras
13 – O Escriturário Indiano, David Leavitt, Ed. Teorema
14 - A Viúva Grávida, Martin Amis, Ed. Quetzal
15 – Tempestade, William Boyd, Casa das Letras
16 – Águas da Primavera, Ivan Turgénev, Ed. Relógio D’ Água
17 – Memento Mori, Muriel Spark, Ed. Relógio D’Água
18 – Raparigas de Província, Edna O’Brien, Ed. Relógio D’ Água
19 – Falconer, John Cheever, Sextante Editora
20 - A Mecânica da Ficção, James Wood, Ed. Quetzal

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Próxima Comunidade Leitores CULTURGEST, Lisboa


Já posso anunciar o programa da próxima Comunidade de Leitores na CULTURGEST, em Lisboa.

As nossas leituras andarão em torno da ideia de O MEDO.

Aqui ficam o texto, as datas e a lista dos livros.

Para mais indicações contactem, por favor, a CULTURGEST

"O medo é uma constante da vida, tanto nos seres humanos como nos animais. (Há quem defenda que até as plantas experimentam medo). Nos animais, o medo funciona como um sinal de alarme perante perigos reais, levando-os a pôr em marcha os seus mecanismos de defesa. E quanto aos seres humanos? Numa sociedade urbana, laica e racionalista, as trevas foram afastadas e o inferno é experimentado em vida e não como promessa de castigo divino depois da morte. Até mesmo as velhas superstições – quem, hoje em dia, não sai de casa numa sexta-feira, 13 – têm sido relegadas para o quase esquecimento. No entanto, o que poderá acontecer quando desaparecem as regras civilizacionais que damos como certas e nos vemos confrontados com a Natureza em toda a sua selvajaria – como acontece com os rapazes de O Deus das Moscas – ou nos encontramos num cenário de guerra como o assustado soldado de A Insígnia Vermelha da Coragem de Stephen Crane? Em contrapartida, numa sociedade dita “pacífica” mas fortemente preocupada com a segurança, monitorizada por redes de vigilância, despudoradamente esquadrinhada graças às tecnologias da comunicação, porque continuamos a sentirmo-nos ameaçados? E quais os receios que mais nos atormentam? Certamente o das doenças e do envelhecimento, como acontece com o personagem principal de A Vida em Surdina de David Lodge; mas, também, com o possível descontrolo no âmbito das experiências científicas, uma questão perturbadora que se encontra no âmago de Nunca me Deixes de Kazuo Ishiguro, onde também se fala de afectos e do pavor de perder entes queridos; esta questão remete-nos para este nosso tempo, no qual convivemos intensamente com o terror público, aleatório, cruel. O ataque de 11 de Setembro, 2001, teve consequências que ainda estão por apurar – e o nova-iorquino Jay McInerney não se coíbe de as aprofundar em A Boa Vida. Finalmente, como lidar com o medo do inexplicável como acontece na arrepiante novela de Henry James, A Volta do Parafuso, um digno representante da Literatura dita de terror?"


Programa

20 de Janeiro
A Insígnia Vermelha da Coragem
Stephen Crane, Ed. Vega

3 de Fevereiro
O Deus das Moscas
William Golding Ed. Dom Quixote

17 de Fevereiro
A Vida em Surdina
David Lodge, Ed. Asa

17 de Março
A Boa Vida
Jay McInerney, Ed. Teorema

31 de Março
Nunca me Deixes
Kazuo Ishiguro, Ed. Gradiva

14 de Abril
A Volta do Parafuso
Henry James, Ed. Relógio D’Água

In most animals fear is a defence mechanism. And in humans? In our rational society hell is experienced in life and not after death, and even old superstitions are almost forgotten. But what happens when savagery returns, such as in Lord of the Flies, or The Red Badge of Courage? And yet in a “peaceful” society concerned with security and monitored by CCTV, why do we feel threatened? What fears torment us? Old-age ailments, yes, as portrayed by David Lodge; but also out-of-control science, as examined by Kazuo Ishiguro. The repercussions of the 9/11 attacks are still not fully understood, as Jay McInerney shows in The Good Life. And how do we deal with fear of the unknown, as in Henry James’s The Turn of the Screw?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MONTAIGNE: o primeiro Blogger?


Sara Bakewell publicou este ano um livro How to Live (Other Press) que é uma biografia em forma de conversa, através dos tempos. O subtítulo é “Or a Life of Montaigne in One Question and Twenty Attempts at an Answer” , o que já explica como ela organizou o livro.
Montaigne é considerado o grande criador do "Ensaio", uma forma literária que condensa dados intelectuais e pessoais do (a) autor(a) e que foi utilizado por escritores como William Hazlitt, Friedrich Nietzsche, Virginia Woolf, George Steiner e muitos mais. Para Sara Backewell, as pessoas que, hoje em dia, mantêm sites e blogues podem ser incluídos na mesma categoria.

Francesca Woodman




Descobri uma fotógrafa que me está a interessar muito. Provavelmente já a conhecem mas eu confesso que ainda me não tinha cruzado com ela. Francesca Woodman - April 3, 1958 - January 19, 1981 - foi uma fotógrafa americana que se suicidou com 22 anos.
Escrevi estas palavras no Facebook e logo de seguida, encontrei um catálogo de uma exposição na Tate Modern - que eu vi - onde havia fotografias e vídeos desta mesma artista que tratou incessantemente o tema do auto-retrato e do retrato. Para ela o corpo - muitas vezes desfocado - é o epicentro de todos os turbilhões. Ela utiliza a baixa velocidade na fotografia para que os corpos quase desapareçam.
Sim, afinal já tinha visto as suas fotografias. Impressionantes. Vou precisar de mais tempo para as olhar de perto e reflectir. Francesca Woodman seguiu Diane Arbus, outra grande fotógrafa americana que também utilizou o preto e branco e também se suicidou.

sábado, 23 de outubro de 2010

Comunidades de Leitores


Mais noticias sobre Comunidades de Leitores:
Na quinta-feira passada, dia 21 de Outubro, 2010, fiz a primeira sessão (de seis) da Comunidade de Leitores em Loures, na Biblioteca Municipal José Saramago, com um grupo de pessoas atentas e bem informadas. Apesar de ter voltado a Jane Austen e a "Orgulho e Preconceito" – com o embalo que já trago da Culturgest – aprendi mais e descobri novas perspectivas. Como é hábito quando se trata de Austen desfizemos muitos "preconceitos" em relação à grande escritora inglesa, sem orgulho mas com eficácia.
Gosto de mencionar que as pessoas que organizam, na Biblioteca, estes encontros – Cristina e Orlanda – fizeram um óptimo trabalho: placas informativas sobre a escritora e a obra, dispostas e forma a que os participantes pudessem consultá-las.
Muito importante: Jane Austen NÃO É uma escritora vitoriana. De acordo?

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Mario Vargas Llosa - vencedor do Prémio Nobel Literatura 2010


E o Nobel foi... para Mario Vargas Llosa, peruano e cidadão do mundo, romancista, contista, jornalista, ensaísta, escritor empenhado nas lutas políticas e sociais e testemunha privilegiada - e crítica - da história da América Latina.
Quando esteve em Lisboa, em 2003, entrevistei-o a propósito da publicação, em Portugal, de " O Paraíso na Outra Esquina" . A entrevista está publicada na Storm-Magazine - www.storm-magazine.com com o título Mario Vargas Llosa: a Cultura da Liberdade. ( Edição nº 14 Novembro/Dezembro, 2003).

Comunidade de Leitores-CULTURGEST


Sessão da Comunidade: Hoje, às 18:30h , mais uma sessão da Comunidade de Leitores da Culturgest. Vamos discutir "Orgulho e Preconceito" de Jane Austen. Continuamos a explorar o tema da "Reivindicação do Amor". Nada como este romance - aparentemente superficial e "romântico" - para desmontar as complexas relações entre homens e mulheres e os seus anseios de felicidade e conjugalidade. O dinheiro, o casamento, a esfera do público versus a do privado, as alterações sociais,a condição feminina numa altura em que Mary Woolstonecraft já publicara "A Vindication of Rights of Women" e as Guerras napoleónicas se travavam em terra e no mar. Num tempo de instabilidade e mudança, como é que Jane Austen aborda os temas mais universais relativos ao ser humano?

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Comunidade de Leitores na Culturgest, Lisboa


É já amanhã, dia 23 de Setembro de 2010, que iniciamos mais uma COMUNIDADE DE LEITORES na CULTURGEST, Lisboa


Tema: A Reivindicação do AMOR II


De que falamos quando falamos de Amor? O título do conto do escritor americano Raymond Carver serve para introduzir esta questão tão pertinente agora, em 2010, como o tem sido ao longo de milhares de anos. O ser humano, caracterizado pela sua tendência para o ódio e para a destruição, redime-se através do Amor, enaltecido e glorificado, base de doutrina de todas as grandes religiões, motor de criação nas Artes, sentimento presente nas Ciências e na Política, “produto” manipulado pela publicidade e pelos média, emoção virtuosa que tanto pode ser elevada aos píncaros, como maculada por vícios diversos e incomensuráveis. Na Grécia Antiga não existia uma só palavra para o Amor, antes se usavam termos tão variados como philia, eros, agape, storge e xenia, embora as fronteiras entre eles não fossem bem nítidas. De que amor se trata no caso de Antígona, a jovem que desafia as ordens do rei para cumprir os rituais funerários devidos ao seu irmão Polinice? Jane Austen preferia usar o termo “afecto” para definir o sentimento que prevalece nos seus romances, enquanto as suas heroínas têm que se haver com a moral, os costumes e as boas maneiras. E se, no desarmante D. H. Lawrence, encontramos as sementes controversas da Revolução Sexual dos anos 60, em Alan Hollinghurst descobrimos, sob a égide de Henry James, a decadente sociedade dos anos 80 onde se “cozinharam” os dramas que hoje estamos a viver; finalmente, Yourcennar trata a questão da paixão erótica e Graham Greene a intervenção – ou interferência – da fé religiosa numa relação adúltera e obsessiva. Continuarão os escritores a conjugar os significados do Amor nas suas obras? Como os distinguir nos livros que iremos ler?

Programa:
23 de Setembro
Antígona
Sófocles, qualquer edição disponível

7 de Outubro
Orgulho e Preconceito
Jane Austen, Ed. Europa-América

28 de Outubro
Mulheres Apaixonadas
D. H. Lawrence, Ed. Relógio D’Água

18 de Novembro
Como a Água que Corre
Marguerite Yourcenar, Ed. Difel

2 de Dezembro
O Fim da Aventura
Graham Greene, Ed. Asa

16 de Dezembro
A Linha da Beleza
Alan Hollinghurst, Ed. Asa


What We Talk About When We Talk About Love is the title of a story by Raymond Carver and introduces a question which is as relevant now as it ever was. The Greeks had many words for love, although how their meaning differed is unclear. What kind of love is meant in Antigone, the girl who buries her brother Polynices in defiance of the king? In Jane Austen’s novels, in which her heroines have to deal with custom and good manners, she uses the term “affection”. And while D. H. Lawrence sowed the seeds of the 1960s’ sexual revolution, Alan Hollinghurst gives us 1980s decadence. Finally, Yourcennar deals with erotic passion and Graham Greene with the intervention – or interference – of faith in an obsessive relationship.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Frank Kermode



FRANK KERMODE 29 November 1919 – 17 August 2010


Morreu Frank Kermode, aos 90 anos. Foi um dos grandes críticos literários ingleses, colaborador regular da London Review of Books - que ajudou a criar - e da New York Review of Books. Especialista em Shakespeare mas também em Philip Roth, Homero, Ian McEwan, a Bíblia, Don DeLillo, John Donne, Wallace Stevens and D. H. Lawrence, entre muitos outros. Em Dezembro do ano passado publicou o seu último livro sobre E.M. Forster. Autor de inúmeras obras, destacamos algumas: "Romantic Image" (1957), "The Sense of an Ending" (1967) "Shakespeare’s Language" (2000). Foi, entre outras atribuições, Lord Northcliffe Professor of Modern English Literature no University College, Londres e King Edward VII Professor of English Literature na Universidade de Cambridge. Recebeu todos os prémios e títulos honoríficos possíveis - foi-lhe atribuído o título de SIR, caso raro entre críticos literários - mas era pessoa discreta, como é possível constatar na sua irónica autobiografia com o título sugestivo "Not Entitled", publicada em 1995.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Booker Prize 2010




O Júri do Man Booker Prize já elaborou a "long-list".

The longlist :
Peter Carey - Parrot and Olivier in America (Faber and Faber) - Edição portuguesa Gradiva
Emma Donoghue - Room (Pan MacMillan - Picador)
Helen Dunmore - The Betrayal (Penguin - Fig Tree)
Damon Galgut - In a Strange Room (Grove Atlantic - Atlantic Books)
Howard Jacobson - The Finkler Question (Bloomsbury)
Andrea Levy - The Long Song (Headline Publishing Group - Headline Review)
Tom McCarthy - C (Random House - Jonathan Cape)
David Mitchell - The Thousand Autumns of Zacob de Zoet (Hodder & Stoughton - Sceptre)
Lisa Moore - February (Random House - Chatto & Windus)
Paul Murray - Skippy Dies (Penguin - Hamish Hamilton)
Rose Tremain -Trespass (Random House - Chatto & Windus)
Christos Tsiolkas -The Slap (Grove Atlantic - Tuskar Rock)
Alan Warner - The Stars in the Bright Sky (Random House - Jonathan Cape)

sábado, 24 de julho de 2010

Recomendações


Imagens de Somerset Maugham (sem data) e de E.M. Forster de turbante (1921)
Acabadas de sair, novas BIOGRAFIAS de dois conhecidos romancistas:

Sobre Somerset Maugham já se sabe (quase) tudo. Mas Selina Hastings foi mais longe:
THE SECRET LIVES OF SOMERSET MAUGHAM
A Biography
By Selina Hastings
Illustrated. 626 pp. Random House. $35

E.M. Forster também foi contemplado: (Ah! O permanente fascínio por estes senhores de sexualidade complexa e hedonismo exacerbado - e um genial pendor para a escrita!)
A GREAT UNRECORDED HISTORY
A New Life of E. M. Forster
By Wendy Moffat
Illustrated. 404 pp. Farrar, Straus & Giroux. $32.50

sábado, 10 de julho de 2010

Os Grandes Românticos

Byron, Leigh Hunt e Mary Shelley
Onde se fala das vidas entrecruzadas dos grandes poetas e escritores românticos ingleses, das suas múltiplas tragédias, do amor-livre que professavam - e que resultou em tantas calamidades - e das relações que mantiveram entre si. Byron o cínico, Shelley, o arrebatado e o destino penoso das mulheres que fizeram parte das suas curtas e desvairadas existências.
YOUNG ROMANTICS
The Tangled Lives of English Poetry’s Greatest Generation
By Daisy Hay
Illustrated. 364 pp. Farrar, Straus & Giroux

domingo, 4 de julho de 2010

IIª Comunidade de Leitores CULTURGEST Lisboa, 1010

Escultura de Roni HornEscultura Roni Horn
Culturgest - Setembro, Outubro, Novembro, 2010

Tema: A Reivindicação do Amor II
De que falamos quando falamos de Amor? O título do conto do escritor americano Raymond Carver serve para introduzir esta questão tão pertinente agora, em 2010, como o tem sido ao longo de milhares de anos. O ser humano, caracterizado pela sua tendência para o ódio e para a destruição, redime-se através do Amor, enaltecido e glorificado, base de doutrina de todas as grandes religiões, motor de criação nas Artes, sentimento presente nas Ciências e na Política, “produto” manipulado pela publicidade e pelos média, emoção virtuosa que tanto pode ser elevada aos píncaros, como maculada por vícios diversos e incomensuráveis.
Na Grécia Antiga não existia uma só palavra para o Amor, antes se usavam termos tão variados como philia, eros, agape, storge e xenia, embora as fronteiras entre eles não fossem bem nítidas. De que amor se trata no caso de Antígona, a jovem que desafia as ordens do rei para cumprir os rituais funerários devidos ao seu irmão Polinice? Jane Austen preferia usar o termo “afecto” para definir o sentimento que prevalece nos seus romances, enquanto as suas heroínas têm que se haver com a moral, os costumes e as boas maneiras. E se, no desarmante D.H. Lawrence, encontramos as sementes controversas da Revolução Sexual dos anos 60, em Alan Hollinghurst descobrimos, sob a égide de Henry James, a decadente sociedade dos anos 80 onde se “cozinharam” os dramas que hoje estamos a viver; finalmente, Yourcennar trata a questão da paixão erótica e Graham Greene a intervenção – ou interferência – da fé religiosa numa relação adúltera e obsessiva.
Continuarão os escritores a conjugar os significados do Amor nas suas obras? Como os distinguir nos livros que iremos ler?

23 Setembro - Antígona - Sófocles – qualquer edição disponível
7 Outubro - Orgulho e Preconceito - Jane Austen, Ed. Europa-América -
28 Outubro - Mulheres Apaixonadas – D. H. Lawrence, Ed. Relógio D’Água
18 Novembro - Como a Água que Corre - Marguerite Yourcenar, Ed. Difel
2 Dezembro - O Fim da Aventura – Graham Greene, Ed. Asa
16 Dezembro - A Linha da Beleza - Alan Hollinghurst, Ed. Asa

sábado, 3 de julho de 2010

Beryl Bainbridge


Morreu Beryl Bainbridge. Não tive ainda a oportunidade de incluir algum livro seu nas Comunidades. Vou tentar lembrar-me. Gosto do que ela escreveu. Humor mordaz e negro. Uma boa receita. Em português "Segundo Queeney" e "Salve-se Quem Puder", Ed. Europa-América. Aconselho.

domingo, 9 de maio de 2010

Próxima Comunidade de Leitores - Culturgest


Eu sei, eu sei. Há que tempos que ando a dizer que darei conta da escolha de livros para a próxima Comunidade de Leitores na Culturgest. No entanto, a dificuldade tem sido enorme. Pura e simplesmente não consigo descobrir obras à altura do nosso grupo de leitores e leitoras e que, simultaneamente, estejam publicadas em português. Já fiz a minha escolha mas dir-vos-ei algo mais sobre as edições, logo que possa. Por enquanto, está assim:

AINDA SOBRE O AMOR:

Antígona - Sófocles - .
Orgulho e Preconceito - Jane Austen, Ed. Europa-América -
Mulheres Apaixonadas – D. H. Lawrence, Ed. Relógio D’Água
Como a Água que Corre - Marguerite Yourcenar, Ed. Difel
O Fim da Aventura – Graham Greene, Ed. Asa
A Linha da Beleza - Alan Hollinghurst, Ed. Asa
O que representa o seguinte: cinco das obras escolhidas estão disponíveis, uma, não. Vou à caça. No que diz respeito a Antígona, talvez haja uma edição da Fundação Gulbenkian.

domingo, 18 de abril de 2010

Notícias


Alexis de Tcqueville, o famoso autor de "Democracy in America" - publicado em dois volumes entre 1835 e 1840 - está a ser revisitado com alguma frequência, o que não é de estranhar dadas as perplexidades com que muitos se deparam quando analisam a trajectória deste modelo político. Uma referência especial à sua biografia , TOCQUEVILLE’S DISCOVERY OF AMERICA de Leo Damrosch, Ed. Farrar, Straus & Giroux. $27 e à apropriação da sua figura por parte do romancista australiano Peter Carey - autor de "Oscar e Lucinda" - no seu novo livro "PARROT AND OLIVIER IN AMERICA " , Ed Alfred A. Knopf. A não perder.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Norman Mailer

Norman Mailer morreu há quase 3 anos mas a sua vida e a sua obra continuam a interessar os amantes da Literatura. Controverso, politicamente incorrecto, mesmo violento - por vezes - Mailer continua a ser um dos ícones da cultura americana. Agora, surgiram as memórias de Norris Chuck Mailer, a sua sexta e última mulher, ex-modelo e pintora.
A TICKET TO THE CIRCUS A Memoir By Norris Church Mailer. Como Norris "domou a fera"... No New York Times http://www.nytimes.com/2010/04/11/books/review/Senior-t.html?emc=tnt&tntemail1=y

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Última Sessão da Comunidade de leitores dedicada ao tema do Amor


Gabriel Garcia Márquez, "O Amor nos Tempos de Cólera"
Uma saga feérica, fantástica, feroz sobre o amor e, sobretudo, sobre a (des)construção humana dos sentimentos e das paixões no cenário alucinante da Colômbia - supõe-se que seja Cartagena.
Alguns Temas:
- A "razão" de Juvenal Urbino versus a "irracionalidade" de Florentio Ariza.
- A importância da figura em torno da qual tudo gira - Fermina Daza
- O Amor como doença - (fazer a ligação com o tema da obsessão em "O Fardo do Amor" de McEwan - diferenças.)
- O Amor e a sua ligação com as questões políticas e sociais - (fazer a ligação com "O Vermelho e o Negro" de Stendhal).
- O Amor que sobrevive ao tempo - o amor que foge às convenções do "amor jovem". O amor no final da vida como desejo de imortalidade.

terça-feira, 16 de março de 2010

"O Fardo do Amor" Ian McEwan


Hoje, na Culturgest, em Lisboa, Comunidade de Leitores, 18:30 h. Vamos discutir "O Fardo do Amor" de Ian McEwan, Ed Gradiva . Aqui, o amor observado à luz do avanço científico - neurociências. Um romance que abre o debate em torno dessas mesmas teorias e descobertas.
O título em inglês, "Enduring Love" é mais complexo - implica suportar e resistir.

Qual a ligação com "Werther" de Goethe, a nossa leitura anterior?
Mas de que amor se trata neste livro? Um amor obsessivo (Jed)? Um amor racional (Joe Rose)? Um amor com reminiscências românticas ( Clarissa)?
Jed é místico - "irracional"
Joe é um cientista - "racional"
Clarissa estuda o poeta romântico John Keats - emotiva

Como apreender o curso de um romance que é, fundamentalmente, um longo debate em torno da percepção, esgrimindo teorias? Darwinistas versus anti - evolucionistas?

Onde entram as teorias de António Damásio?

Como é que as pessoas se apaixonam e se desapaixonam?

O que é a Religião e como é que ela se pode ligar (ou não) ao Amor?

Quem é mais obsessivo - Jed ou Joe?

Estas são algumas questões soltas. O resto ficará para a sessão.

quarta-feira, 3 de março de 2010

Os Sofrimentos do Jovem Werther


Amanhã é dia de WERTHER, na Comunidade de Leitores. Sem nos sentirmos atingidos ou a sofrer da síndrome com o mesmo nome, analisaremos esta história de paixão funesta.
Werther amará assim porque o objecto do seu amor é inacessível, inatingível? Uma vez que Lotte vai casar – e casa – com Albert e nunca diz que retribui o seu amor, o que acontece "dentro" de Werther?
Como resolver este triângulo amoroso?
Uma vez que Goethe experimentou uma situação semelhante, mas evidentemente não se matou – essa foi a história de um outro seu conhecido do tempo de Leipzig – estaria Goethe a fazer uma crítica subtil ao movimento romântico? A esse "Sturm und Drang" de que ele é o expoente máximo?
Qual o papel da Natureza nesta história. (Goethe estava próximo de Rousseau e contra Voltaire?)
Será "Werther", o livro, um manual de paixão não correspondida ou um vigoroso aviso contra os excessos?
(De notar que tudo o que acontece a Werther não é provocado por "factores adversos", exteriores, mas sim por causa da sua própria natureza).

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"LE ROUGE ET LE NOIR"

LE ROUGE ET LE NOIR
Para Stendhal, o grande admirador de Napoleão, tudo era político... incluindo o AMOR. Hoje, na Culturgest, Lisboa, é dia de "Síndrome de Stendhal". A sessão da Comunidade de Leitores é dedicada à leitura de "O Vermelho e o Negro".
Falaremos do conceito de Amor expresso por Stendhal - a célebre "cristalização" - do donjuanismo, das várias faces do Amor : Amour-passion, o único que Stendhal subscrevia; Amour-physique; Amour-goût; Amour-vanité.
Discutiremos se o Amor em Stendhal é (poderá ser) uma fraude; se o Amor possui poderes evocativos de associação mental, se a ideia de dotar o (a) amado(a) de qualidades superiores não será um embuste sério.
Falaremos, também, do grande retrato de época que é "O Vermelho e o Negro", dos diferentes níveis da sociedade, de Julien Sorel, o self-made man, e o seu destino.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Ode ao Amor

Imagem De Chirico
Já que estamos a falar de AMOR nas nossas sessões de leitura, aqui fica um Poema de Jorge de Sena - ODE AO AMOR.

(Dedicado à Aldina Duarte, ao seu cantar, à sua Arte)


Tão lentamente, como alheio, o excesso de desejo,
atento o olhar a outros movimentos,
de contacto a contacto, em sereno anseio, leve toque,
obscuro sexo à flor da pele sob o entreaberto
de roupas soerguidas, vibração ligeira, sinal puro
e vago ainda, e súbito contrai-se,
mais não é excesso, ondeia em síncopes e golpes
no interior da carne, as pernas se distendem,
dobram-se, o nariz se afila, adeja, as mãos,
dedos esguios escorrendo trémulos
e um sorriso irónico, violentos gestos, amor...
ah tu, senhor da sombra e da ilusão sombria,
vida sem gosto, corpo sem rosto, amor sem fruto,
imagem sempre morta ao dealbar da aurora
e do abrir dos olhos, do sentir memória, do pensar na vida,
fuga perpétua, demorado espasmo, distração no auge,
cansaço e caridade pelo desejo alheio,
raiva contida, ódio sem sexo, unhas e dentes,
despedaçar, rasgar, tocar na dor ignota,
hesitação, vertigem, pressa arrependida,
insuportável triturar, deslize amargo,
tremor, ranger, arcos, soluços, palpitar e queda.

Distantemente uma alegria foi,
imensa, já tranquila, apascentando orvalhos,
de contacto a contacto, ansiosamente serenando,
obscuro sexo à flor da pele... amor... amor...
ah tu senhor da sombra e da ilusão sombria...
rei destronado, deus lembrado, homem cumprido.
Distantemente, irónico, esquecido.


Jorge de Sena, in 'Pedra Filosofal'

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ligações Perigosas

Imagem: Filme de Stephen Frears com Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer


Depois de amanhã, dia 4 de Fevereiro, é dia de "Ligações Perigosas", isto é, de "jogos" amorosos no decadente e libertino século XVIII. De acordo com Dennis de Rougemont em "O Amor e o Ocidente" este é o tempo de Sade , Casanova e D. Juan - este último um mito recuperado da história de 1630 de Tirso de Molina, "El Burlador de Sevilla y convidado de piedra" - uma época em que se distinguem dois traços característicos nos heróis - amantes: o pérfido e o celerado. A antítese das verdades do amor cavalheiresco, isto é, a candura e a cortesia.
Valmont e a Marquesa de Merteuil em "Ligações Perigosas" inscrevem-se nesta tipologia erótica.
No entanto, Rougemont faz notar que D. Juan - que encarna o mito - é uma "espécie pura", é todo instinto, combinando todas as possibilidades da "infidelidade perpétua", desafiando perigos e convenções pelo mero prazer de "roubar prazer". Quanto a Valmont e Merteuil são os rostos de ums sociedade moribunda, afogada no seu excesso, dançando até à morte - D. Juan entrega-se a ela - sem conhecer limites.
Diz Rougemont depois de comentar " o ideal destruído no século XVII: " Este recalcamento do mito pela ironia universal e o triunfo aplaudido dos "traidores" preparam as mais estranhas reaparições. Entre tantas facilidades, saciedades e requintes intelectuais ou voluptuosos, uma das necessidades mais profundas do homem permanece privada de satisfação: o desejo de sofrer". (Pág. 191, Ed. Moraes, Lisboa, 1982). O que nos remete para Sade, evidentemente, e para o seu "método" analisado por Roland Barthes em "Sade, Fourier e Loyola" onde escreve em Sade II: “Attendu qu’il est tout a fait préférable pour le plaisir que les choses se passent de façon ordonné…”
Ordem e calculismo, método e objectivos bem definidos , assim se passa o tempo em jogos amorosos ao longo de muitas cartas trocadas entre os vários e várias intervenientes das “Ligações Perigosas”.
A seguir com atenção…
A questão é sempre a mesma: Quem ama verdadeiramente quem? Por que parâmetros? Que tipo(s) de amor é (são) este(s)?
Quem ama "à antiga" ? E será esse um amor mais "nobre"?
O que dizer da "pureza" de Madame de Tourvel ou da "inocência" de Cecile de Volanges' Qual o papel de Madame de Volanges e de Madame de Rosemond? Será Danceny - Le Chevalier - uma espécie de Romeu perdido no tempo?
Até 5ª

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Ligações Perigosas


Estou a (re)ler "Ligações Perigosas" ( 1782) de Choderlos de Laclos para a próxima sessão da Comunidade. Devo confessar que estou um pouco entediada. Mas vou avançar. Dentro em breve escreverei aqui alguma coisa que sirva de pistas de leitura. Lembrei-me que poderíamos ler , também, as cartas de Soror Mariana Alcoforado, a desavergonhada freira que se antecipou a tudo isto. E referir o Marquês de Sade. A época é a mesma. Ah! E podíamos ler a adaptação do Heiner Müller, de 1981, chamada "Quartet".

Fiquemo-nos, por agora, com a imagem de Fragonnard.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Quinta-Feira, dia 21 Janeiro 2010 é dia de Romeu e Julieta


19 Janeiro 2010

Vamos iniciar uma nova edição da Comunidade de Leitores na Culturgest com a leitura de “Romeu e Julieta” de William Shakespeare. Não poderíamos começar melhor. Se há texto que melhor exprime o ardor juvenil do amor e a força da paixão que se sobrepõe a todos os obstáculos, temo-lo entre as nossas mãos.
É claro que este amor tão intenso e tão puro está condenado desde o início e o destino de ambos – “the star-crossed lovers” – está selado.
A história encontra-se toda no Prólogo:
"Two households, both alike in dignity,In fair Verona, where we lay our scene,From ancient grudge break to new mutiny,Where civil blood makes civil hands unclean.From forth the fatal loins of these two foesA pair of star-cross'd lovers take their life;"

Na cidade de Verona, duas famílias (casas) de alta linhagem mantêm uma longa e feroz guerra que mancha de sangue a comunidade. Romeu e Julieta atravessam este campo de batalha, com o seu “amor proibido” sedentos um do outro, animados por uma força que os transcende e que os levará à morte.
Sabemos quais foram as fontes de Shakespeare para compor esta peça. De acordo com Harold Bloom não podemos esquecer Chaucer, principalmente “Troilus e Créssida” escrito entre 1374 e 1386.
De acordo com Bloom em “The Invention of the Human," Shakespeare e Geoffrey Chaucer encaravam o amor e a morte da mesma forma: "Love dies or else lovers die: these are the pragmatic possibilities for the two poets, each of them experientially wise beyond wisdom" . Quanto a Shakespeare, Bloom observa que dramaturgo mais depressa mataria os amantes do que o próprio Amor e Romeu e Julieta servem de exemplo perfeito, para esta ideia.
Questões:
- Quais as diferenças de carácter entre Romeu e Julieta? O que é que os atrai imediatamente?
Julieta : "My bounty is as boundless as the sea, My love as deep."

E Romeu, quando a vê no esplendor da sua casa:
"What lady's that which doth enrich the hand

Of yonder knight? O she doth teach the torches to burn bright;

Her beauty hangs upon the cheek of night,

Like a rich jewel in an Ethiop's ear."
Será possível pensar que o amor de ambos continuaria a ser tão fecundo – referência constante a flores “blooming” – se tivessem sobrevivido?
- Poderá a impossibilidade do amor servir de aguilhão que os mantém numa ansiedade erótica?
- Poderemos comparar o par Romeu e Julieta com Tristão e Isolda, a narrativa fundadora do amor no Ocidente?

- Será que a espada que Tristão e Isolda colocam entre eles quando estão adormecidos no bosque – e são surpreendidos pelo rei Mark, marido de Isolda? – representa também um impedimento que mantém viva a chama do desejo?

- E quanto ao par Dante e Beatriz, poderá haver semelhanças ou são histórias totalmente distintas?
- Será que tal como em Dante, em Romeu e Julieta se aplica a “religião do amor”?
- Compare-se Mercutio com Romeu? O que os separa e o que os une?
- Que papel desempenham a Ama e o Frade, figuras bem menos nobres de sentimentos?
- Como encarar o ambiente – e a importância – familiar dos Montague e dos Capuletos?

Muito mais será dito e discutido na quinta-feira. Espero que esta pequena amostra vos sirva de incentivo.

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

A Próxima Comunidade Leitores na CULTURGEST

Já me chamaram a atenção por andar tão preguiçosa em relação ao blog. Por isso, aqui fica a indicação dos livros com os quais nos iremos deliciar na próxima Comunidade de Leitores na Culturgest, em Lisboa.
Uma Comunidade dedicada ao tema do AMOR com início a 21 de Janeiro, 2010. Sempre às 18:30 h
* Inscrições até 15 de Janeiro (limite 40 pessoas) na bilheteira da Culturgest, pelo telf. 21 7905155, pelo fax 21 7905154 ou pelo e-mail culturgest.bilheteira@cgd.pt.)
Informações 21 790 51 55culturgest.bilheteira@cgd.pt

Imagem : Detalhe de "O Rapto de Proserpina" de Gian Lorenzo Bernini, 1621-22

O que é o Amor? Perguntem a quem vive o que é a vida ; perguntem a quem adora o que é Deus? in Sobre o Amor, Percy Shelley


O Amor, tal como o entendemos no mundo ocidental, só apareceu na nossa cultura a partir do século XI, na forma do celebrado “amor cortês”. É o que propõe Denis de Rougemont no clássico O Amor e o Ocidente, partindo do mito de Tristão e Isolda. Secundado, mais drasticamente, pelo autor católico C.S. Lewis em A Alegoria do Amor (1936) e por outros pensadores, Rougemont conjuga todas as formas do verbo amar, do amor-paixão ao amor-gosto, do amor físico ao amor-vaidade, passando pelos inúmeros autores que, em Poesia, Romance ou Teatro – para não falar do discurso filosófico – continuam indefinidamente a recriar o sentimento amoroso. Mas o que fazer de textos anteriores como "Fedro" de Platão, como os fragmentos de poemas inflamados de Safo ou como a obra de Ovídio, tão profundamente ligada à celebração do Amor? Sabemos que a influência dos grandes pares míticos – Tristão e Isolda, Heloísa e Abelardo, Romeu e Julieta, Dante e Beatriz, Dom Quixote e Dulcineia – ou de grandes amorosos como Don Juan, Casanova ou Sade, se faz sentir até aos dias de hoje. Os maiores poetas de todos os tempos – Shakespeare e Camões, por exemplo – foram, também, grandes amantes e o Amor nunca abandonou o curso existencial do ser humano: tem estado presente em batalhas e revoluções, em arroubos místicos e carnais, faz o papel de Musa e serve de álibi para actos reprováveis. Nos nossos dias, teóricos como Allan Bloom e, mais recentemente, Christina Nehring – que, no seu apaixonado Uma Reivindicação do Amor para o século XXI, se rebela contra o que lhe parece um desinteresse por esse sentimento, abafado por uma cultura consumista e imediatista – têm continuado a analisar os grandes textos da Literatura amorosa. Para deslindar este longo e tortuoso percurso – do mito à apropriação burguesa, do sentimento romântico ao materialismo do século XX – esta Comunidade de Leitores irá debruçar-se sobre alguns dos clássicos do género.


Helena Vasconcelos

Qui 21 de Janeiro - Romeu e Julieta, William Shakespeare, Ed. Europa-América
Qui 4 de Fevereiro - As Ligações Perigosas, Choderlos de Laclos, Ed. Relógio D’Água
Qui 18 de Fevereiro - O Vermelho e o Negro, Stendhal, Livraria Clássica Editora
Qui 4 de Março- Werther, Johann Wolfgang von Goethe, Guimarães Editores
Ter 16 de Março - O Fardo do Amor, Ian McEwan, Ed. Gradiva
Qui 1 de Abril - O Amor nos Tempos da Cólera, Gabriel Garcia Marquez, Ed. Dom Quixote

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Os Melhores Livros de 2009 (cont.)


Esqueci-me de mencionar um romance - primeira obra - de Maria da Conceição Caleiro, intitulado "O Cão das Ilhas", Ed. Sextante. Foi uma grande surpresa.

Escrevi o seguinte no Público:

«”O Cão das Ilhas” é um livro surpreendente e poderoso, uma tragédia clássica, com fontes gregas e shakespeareanas, a primeira obra de uma autora que escreve com segurança e mestria. A construção da narrativa, a utilização de uma voz (principal) masculina e de três vozes femininas, a passagem de umas para as outras com agilidade e autoridade, a beleza quase onírica de certas imagens fazem deste livro uma obra excepcional [...].» Se quiser ler o resto vá até www.storm-magazine.com e procure em Arquivo

domingo, 3 de janeiro de 2010

Os Melhores Livros de 2009


Os meus autores favoritos: Richard Zimler e Cristina Carvalho. Haverá melhor do que ter amigos que admiramos e amamos pelas suas qualidades como pessoas e, também, como escritores? Até dá gosto...
Fazer listas de livros preferidos do ano que passou é uma tarefa que alguns acham horrível. Pela minha parte, confesso que gosto. Gosto de os recordar, de os colocar juntos na minha cabeça, de reler certas páginas que marquei, de ver as minhas notas...
Quando me pedem, todos os anos, do Jornal, as minhas escolhas, já sei que só serão mencionadas as obras mais "votadas" entre todos os colaboradores. Por isso, escrito por mim, no Ípsilon, só saiu a referência a "O Homem Sem Qualidades", do Musil, Vol III com a magnífica tradução do João Barrento.
Mas aqui, no BLOG, quero fazer a MINHA LISTA. Resta dizer três coisas: primeiro, os títulos foram colocados por ordem de descoberta - ou de data de edição - e não qualitativamente porque gostei de todos com a mesma intensidade por razões diferentes ; segundo, continuo a falhar muito em relação aos escritores portugueses por razões profissionais e só menciono aqui dois, que li com atenção; terceiro, confesso que li mais não-ficção do que ficção, tanta que não cabe aqui mencioná-la. Aborreceria, certamente, os leitores, referir livros que só a mim interessam - provavelmente.
Assim, e depois de tantas explicações, aqui vão as obras que me agradaram mais, que creio serem as melhores, publicadas em Portugal, em 2009:
VENEZA, Jan Morris, Ed. Tinta da China
LOVE, Toni Morrison, Ed. Dom Quixote
2666, Roberto Bolaño, Ed. Quetzal
CONTOS COMPLETOS I , John Cheever, Ed. Sextante
CADERNO AFEGÃO, Alexandra Lucas Coelho, Ed. Tinta da China
OS ANAGRAMAS DE VARSÓVIA, Richard Zimmler, Ed. Oceanos
NOCTURNO, Cristina Carvalho, Ed. Sextante
O ASSASSINO CEGO Margaret Atwood, Ed. Bertrand
A RAINHA NO PALÁCIO DAS CORRENTES DE AR, Stieg Larsson, Ed. Oceanos
ILUSÃO ( OU O QUE QUISEREM), Luisa Costa Gomes, Ed. Dom Quixote
A EDIÇÃO DE LIVROS E A GESTÃO ESTRATÉGICA, José Afonso Furtado, Ed. Booktailors - não ficção
Reedições:
A MONTANHA MÁGICA, Thomas Mann, Ed. Dom Quixote
O HOMEM SEM QUALIDADES, Volume III, Robert Musil, Ed. Dom Quixote
OUTRAS VOZES, OUTROS LUGARES, Truman Capote, Ed. Sextante
AS CONFISSÕES DE NAT TURNER , William Styron, Ed. Bertrand
O que li em 2009 que ainda não está publicado em Portugal e que recomendo vivamente:
A GATE AT THE STAIRS, Lorrie Moore, Ed. Alfred A. Knopf
HALF BROKE HORSES: A True-Life Novel, Jeannette Walls, Ed. Scribner
A SHORT HISTORY OF WOMEN, Kate Walbert, Ed. Scribner
WOLF HALL, Hilary Mantel, Ed. Fourth Estate
THE CHILDREN'S BOOK, A.S. Byatt, Ed. Chatto & Windus
THE AGE OF WONDER: How the Romantic Generation Discovered the Beauty and Terror of Science, Richard Holmes, Ed. Harper Collins - non-fiction
RAYMOND CARVER: A Writer’s Life, Carol Sklenicka, Ed. Scribner - non-fiction.



sábado, 2 de janeiro de 2010

Literatura Masculina




Lembram-se quando se falava aguerridamente em "escrita feminina", em "literatura feminina"? Esse tempo já passou. E agora? A preocupação vai para a sobrevivência da escrita dos homens, daqueles de barba rija e que gostam do "cheiro a napalm pela manhã". No New York Times de 31 de Dezembro do extinto ano de 2009, a escritora KATIE ROIPHE, faz um balanço da escrita de autores "viris" como Roth, Updike, Bellow e outros. Ler tudo em http://www.nytimes.com/2010/01/03/books/review/Roiphe-t.html?ref=review