terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Ligações Perigosas

Imagem: Filme de Stephen Frears com Glenn Close, John Malkovich e Michelle Pfeiffer


Depois de amanhã, dia 4 de Fevereiro, é dia de "Ligações Perigosas", isto é, de "jogos" amorosos no decadente e libertino século XVIII. De acordo com Dennis de Rougemont em "O Amor e o Ocidente" este é o tempo de Sade , Casanova e D. Juan - este último um mito recuperado da história de 1630 de Tirso de Molina, "El Burlador de Sevilla y convidado de piedra" - uma época em que se distinguem dois traços característicos nos heróis - amantes: o pérfido e o celerado. A antítese das verdades do amor cavalheiresco, isto é, a candura e a cortesia.
Valmont e a Marquesa de Merteuil em "Ligações Perigosas" inscrevem-se nesta tipologia erótica.
No entanto, Rougemont faz notar que D. Juan - que encarna o mito - é uma "espécie pura", é todo instinto, combinando todas as possibilidades da "infidelidade perpétua", desafiando perigos e convenções pelo mero prazer de "roubar prazer". Quanto a Valmont e Merteuil são os rostos de ums sociedade moribunda, afogada no seu excesso, dançando até à morte - D. Juan entrega-se a ela - sem conhecer limites.
Diz Rougemont depois de comentar " o ideal destruído no século XVII: " Este recalcamento do mito pela ironia universal e o triunfo aplaudido dos "traidores" preparam as mais estranhas reaparições. Entre tantas facilidades, saciedades e requintes intelectuais ou voluptuosos, uma das necessidades mais profundas do homem permanece privada de satisfação: o desejo de sofrer". (Pág. 191, Ed. Moraes, Lisboa, 1982). O que nos remete para Sade, evidentemente, e para o seu "método" analisado por Roland Barthes em "Sade, Fourier e Loyola" onde escreve em Sade II: “Attendu qu’il est tout a fait préférable pour le plaisir que les choses se passent de façon ordonné…”
Ordem e calculismo, método e objectivos bem definidos , assim se passa o tempo em jogos amorosos ao longo de muitas cartas trocadas entre os vários e várias intervenientes das “Ligações Perigosas”.
A seguir com atenção…
A questão é sempre a mesma: Quem ama verdadeiramente quem? Por que parâmetros? Que tipo(s) de amor é (são) este(s)?
Quem ama "à antiga" ? E será esse um amor mais "nobre"?
O que dizer da "pureza" de Madame de Tourvel ou da "inocência" de Cecile de Volanges' Qual o papel de Madame de Volanges e de Madame de Rosemond? Será Danceny - Le Chevalier - uma espécie de Romeu perdido no tempo?
Até 5ª

2 comentários:

Macaquinha disse...

Obrigada :)
Ja vi este filme um par de vezes, mas com certeza voltarei a ve-lo. De todas as vezes que o vejo e revejo sempre impressiono-me muitíssimo com toda a historia de tramas a volta da Marquesa e de Valmont. E aquela frase que ele repete ate a exaustao, mais para se convencer a si proprio do que a sua amante de que aquele amor/relacao nao pode continuar?... Ah... Essa frase cau-se arrepios, quase que posso sentir a dor da rejeicao na pele...
Sem duvida, um dos filmes que constam no top ten dos melhores filmes da minha vida. :)

Boboquinha disse...

Olá. Calhei neste blogue e parece-me interessante. Já que falam deste expêndido filme, tenho um trecho favorito que quero partilhar. Numa cena alguém mais velho e experiente diz a Madame de Tourvel mais ou menos isto:
"Os homens gostam de receber amor, nós gostamos de dar". E por isso somos incompatíveis... lindo!

No filme consegui identificar-me com John Malcovitch na cena em que ele, visivelmente magoando-se a si mesmo, cai na manipulação da perspicaz Marquesa e não para de dizer "It's beyond my control". Ele está a magoar-se e não consegue parar...

Parabéns pelo blogue. Publiquem mais.