quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

Comunidade de Leitores na Biblioteca de Loures

EXPIAÇÃO de Ian McEwan, Ed. Gradiva, Lisboa, 2002

No dia 6 de Janeiro, estarei na Biblioteca Municipal de Loures - Biblioteca José Saramago - para mais uma sessão da Comunidade de Leitores. Vamos discutir "Expiação" de Ian McEwan, um livro de que gosto particularmente e que está associado à vinda a Lisboa do autor, da apresentação que ficou a meu cargo - na Faculdade de Letras de Lisboa (Universidade Clássica) - e de um subsequente jantar numa casa de fados - que McEwan adorou.

Deixo aqui uma citação de um texto sobre este autor que faz parte de uma série de intervenções minhas, dedicadas à Literatura anglo-saxónica, intitulada "Marcas":

"(Com a publicação, em 2001 de "Expiação") ... McEwan surpreendeu todos com um livro que contém em si todas as suas preocupações habituais mas que conta uma história bastante diferente. "Expiação" é um romance contemporâneo com características singulares, um exemplo de como este género literário pode ser extremamente complexo e até erudito, mantendo, no entanto, a faculdade indispensável de estar perto do leitor e de ser reconhecido como género popular. Numa primeira leitura, “Expiação” pode passar por ser mais uma boa história para “distrair”. Ou seja, satisfaz o leitor com os ingredientes habituais: um romance familiar que refere temas como o idílio da infância destroçada, a juventude iluminada pelo amor, a paixão, a violência, a vida, a guerra, a morte, um certo “suspense”, enganos e desenganos, belas paisagens, casas de campo inglesas, lealdades e traições, nobreza de sentimentos e, principalmente, a noção da passagem inexorável do tempo. Mas quem se der ao trabalho de ler com mais atenção descobre que “Expiação” é um romance sobre o romance a começar pela citação de “Northanger Abbey” de Jane Austen, a abrir o livro."

domingo, 26 de dezembro de 2010

Os melhores LIVROS de 2010

Uma vez que creio que há pessoas que compram livros mesmo que já não seja Natal, aqui fica a minha lista, a mesma que entreguei no Jornal Público, Suplemento Ípsilon - balanço do ano 2010.
Os 20 Melhores livros estrangeiros – de realçar as óptimas traduções que valorizam as obras:

LIVROS 2010

Helena Vasconcelos

1- As Aventuras de Augie March, Saul Bellow, Ed. Quetzal
2 - Verão, J.M. Coetzee, Ed. Dom Quixote
3 - Um Traidor dos Nossos, John Le Carré, Ed. Dom Quixote
4 - O Sonho do Celta, Mario Vargas Llosa, Ed. Quetzal
5 - Woolf Hall, Hillary Mantel, Ed. Civilização
6 – Doutor Fausto, Thomas Mann, Ed. D. Quixote
7 - Ao Cair da Noite, Michael Cunningham, Ed. Gradiva
8 – O Quinto da Discórdia – Robertson Davies, Ed. Ahab
9 - Na Sombra do Pai, Richard Russo, Porto Editora
10 - A Beleza e a Tristeza, Yasunari Kawabata, Ed. Dom Quixote
11 – As Serviçais, Kathryn Stockett, Ed. Saída de Emergência
12 - Coluna de Fumo – Denis Johnson, Ed. Casa das Letras
13 – O Escriturário Indiano, David Leavitt, Ed. Teorema
14 - A Viúva Grávida, Martin Amis, Ed. Quetzal
15 – Tempestade, William Boyd, Casa das Letras
16 – Águas da Primavera, Ivan Turgénev, Ed. Relógio D’ Água
17 – Memento Mori, Muriel Spark, Ed. Relógio D’Água
18 – Raparigas de Província, Edna O’Brien, Ed. Relógio D’ Água
19 – Falconer, John Cheever, Sextante Editora
20 - A Mecânica da Ficção, James Wood, Ed. Quetzal

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Próxima Comunidade Leitores CULTURGEST, Lisboa


Já posso anunciar o programa da próxima Comunidade de Leitores na CULTURGEST, em Lisboa.

As nossas leituras andarão em torno da ideia de O MEDO.

Aqui ficam o texto, as datas e a lista dos livros.

Para mais indicações contactem, por favor, a CULTURGEST

"O medo é uma constante da vida, tanto nos seres humanos como nos animais. (Há quem defenda que até as plantas experimentam medo). Nos animais, o medo funciona como um sinal de alarme perante perigos reais, levando-os a pôr em marcha os seus mecanismos de defesa. E quanto aos seres humanos? Numa sociedade urbana, laica e racionalista, as trevas foram afastadas e o inferno é experimentado em vida e não como promessa de castigo divino depois da morte. Até mesmo as velhas superstições – quem, hoje em dia, não sai de casa numa sexta-feira, 13 – têm sido relegadas para o quase esquecimento. No entanto, o que poderá acontecer quando desaparecem as regras civilizacionais que damos como certas e nos vemos confrontados com a Natureza em toda a sua selvajaria – como acontece com os rapazes de O Deus das Moscas – ou nos encontramos num cenário de guerra como o assustado soldado de A Insígnia Vermelha da Coragem de Stephen Crane? Em contrapartida, numa sociedade dita “pacífica” mas fortemente preocupada com a segurança, monitorizada por redes de vigilância, despudoradamente esquadrinhada graças às tecnologias da comunicação, porque continuamos a sentirmo-nos ameaçados? E quais os receios que mais nos atormentam? Certamente o das doenças e do envelhecimento, como acontece com o personagem principal de A Vida em Surdina de David Lodge; mas, também, com o possível descontrolo no âmbito das experiências científicas, uma questão perturbadora que se encontra no âmago de Nunca me Deixes de Kazuo Ishiguro, onde também se fala de afectos e do pavor de perder entes queridos; esta questão remete-nos para este nosso tempo, no qual convivemos intensamente com o terror público, aleatório, cruel. O ataque de 11 de Setembro, 2001, teve consequências que ainda estão por apurar – e o nova-iorquino Jay McInerney não se coíbe de as aprofundar em A Boa Vida. Finalmente, como lidar com o medo do inexplicável como acontece na arrepiante novela de Henry James, A Volta do Parafuso, um digno representante da Literatura dita de terror?"


Programa

20 de Janeiro
A Insígnia Vermelha da Coragem
Stephen Crane, Ed. Vega

3 de Fevereiro
O Deus das Moscas
William Golding Ed. Dom Quixote

17 de Fevereiro
A Vida em Surdina
David Lodge, Ed. Asa

17 de Março
A Boa Vida
Jay McInerney, Ed. Teorema

31 de Março
Nunca me Deixes
Kazuo Ishiguro, Ed. Gradiva

14 de Abril
A Volta do Parafuso
Henry James, Ed. Relógio D’Água

In most animals fear is a defence mechanism. And in humans? In our rational society hell is experienced in life and not after death, and even old superstitions are almost forgotten. But what happens when savagery returns, such as in Lord of the Flies, or The Red Badge of Courage? And yet in a “peaceful” society concerned with security and monitored by CCTV, why do we feel threatened? What fears torment us? Old-age ailments, yes, as portrayed by David Lodge; but also out-of-control science, as examined by Kazuo Ishiguro. The repercussions of the 9/11 attacks are still not fully understood, as Jay McInerney shows in The Good Life. And how do we deal with fear of the unknown, as in Henry James’s The Turn of the Screw?

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

MONTAIGNE: o primeiro Blogger?


Sara Bakewell publicou este ano um livro How to Live (Other Press) que é uma biografia em forma de conversa, através dos tempos. O subtítulo é “Or a Life of Montaigne in One Question and Twenty Attempts at an Answer” , o que já explica como ela organizou o livro.
Montaigne é considerado o grande criador do "Ensaio", uma forma literária que condensa dados intelectuais e pessoais do (a) autor(a) e que foi utilizado por escritores como William Hazlitt, Friedrich Nietzsche, Virginia Woolf, George Steiner e muitos mais. Para Sara Backewell, as pessoas que, hoje em dia, mantêm sites e blogues podem ser incluídos na mesma categoria.

Francesca Woodman




Descobri uma fotógrafa que me está a interessar muito. Provavelmente já a conhecem mas eu confesso que ainda me não tinha cruzado com ela. Francesca Woodman - April 3, 1958 - January 19, 1981 - foi uma fotógrafa americana que se suicidou com 22 anos.
Escrevi estas palavras no Facebook e logo de seguida, encontrei um catálogo de uma exposição na Tate Modern - que eu vi - onde havia fotografias e vídeos desta mesma artista que tratou incessantemente o tema do auto-retrato e do retrato. Para ela o corpo - muitas vezes desfocado - é o epicentro de todos os turbilhões. Ela utiliza a baixa velocidade na fotografia para que os corpos quase desapareçam.
Sim, afinal já tinha visto as suas fotografias. Impressionantes. Vou precisar de mais tempo para as olhar de perto e reflectir. Francesca Woodman seguiu Diane Arbus, outra grande fotógrafa americana que também utilizou o preto e branco e também se suicidou.