sábado, 17 de janeiro de 2009


Tereza Coelho

Acabei de receber uma notícia muito triste. Morreu esta manhã a escritora, jornalista, editora e minha amiga, Tereza Coelho. Estou em choque, naquele estado de incompreensão e negação que sentimos nestes casos. Não via a Tereza há algum tempo. Liguei-lhe no Natal mas ninguém atendeu e eu deixei uma mensagem. Não fiquei preocupada, a Tereza responderia quando pudesse. Soube hoje que foi no Natal que ela foi para o hospital, com uma pneumonia. (E eu na minha azáfama de todos os dias!).

Quero falar-vos da Tereza: conhecemo-nos há mais de 30 anos. Tínhamos gostos semelhantes no que diz respeito à literatura. Adorávamos falar de livros e competíamos para sermos as primeiras a conhecer aquelas obras de que nem sequer se sonhava, por cá. Nessa altura, ela era das pouquíssimas pessoas, em Portugal, que sabia muito sobre a literatura de expressão anglo-saxónica e que estava ao par do que se publicava nos Estados Unidos e em Inglaterra. Era bom poder falar com ela, trocar informações e ideias. Era, ainda, das poucas pessoas interessadas a sério nos Estudos Femininos, de uma forma dinâmica e de acordo com o passar dos tempos. Quando a escolheram para dirigir a revista ELLE - que ia começar cá em Portugal - convidou-me para colaborar com ela. Quando o jornal Público começou, ela chamou-me para o suplemento cultural. Quando foi para - o já extinto - jornal O Independente, fui atrás dela. E por aí fora. Acompanhámo-nos uma à outra nos revezes e nas alegrias da vida. Quando se casou com o Rui Cardoso Martins, a festa, no Alentejo, foi tão maravilhosa que a marquei na minha vida como a última em que me diverti, realmente.
E tínhamos muitos amigos e amigas em comum. A Tereza era uma mulher muito especial: leal, boa profissional, exigente, sem preconceitos, pragmática mas psicologicamente complexa. Fascinante e surpreendente. Aprendi muito com ela apesar de eu ser 10 anos mais velha. Aliás, invejava-lhe a amizade com a Marguerite Duras - de quem ela era a tradutora portuguesa - e com outros grandes escritores que eu admiro. A Tereza começou tão nova e tornou-se logo uma profissional de topo, com uma segurança extraordinária. Era uma crítica literária com enorme bagagem intelectual, segura e certeira; como editora era exigente e perfeccionista; como escritora, foi eclética e nada convencional. Tinha outra característica pouco comum nas mulheres portuguesas: nunca a ouvi queixar-se ou lamentar-se. Não se entregava à auto-piedade e preferia uma ironia muito inteligente e muito fina. Admirava nela essa faceta bem como a coragem para vencer doenças, para mudar de trabalho - saiu do jornalismo e foi para a edição - para levar a sua vida sem sentimentalismos. Era maravilhosa com o marido e com os filhos. E fez parte da minha vida - quando éramos as duas novas, cheias de energia e de ideias e enquanto crescemos. Ela era demasiado nova para morrer.
Sinto muito a sua falta.

A Tereza disse: «Pessoalmente, gostaria que as mulheres parassem de contar a vida delas, que ser escritor não fosse uma obsessão nacional e que se tornasse mais difícil publicar.» Sábias e desassombradas palavras.

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