3 Dezembro, 2008
A última sessão da última Comunidade de Leitores de 2008, na próxima semana, será dedicada à leitura de “Rapariga com Brinco de Pérola” de Tracy Chevalier. Como todos sabem – muita gente também viu o filme de Peter Webber – esta obra é uma visão romanceada de uma parte da vida do pintor Johannes Vermeer. (1632-1675), Delft – Holanda.
Citação de uma passagem de um texto encontrado na Internet : “A nova ordem que se instaurou nos Países Baixos a partir da trégua, firmada em 1609, trouxe diferenças culturais importantes entre o sul, sob domínio da corte católica espanhola, e as províncias do norte, protestantes. A inexistência da devoção a imagens nos cultos protestantes desvinculou a Arte da Igreja. Para além disso, a ausência nas Províncias Unidas de uma cultura palaciana propiciou o desenvolvimento de uma arte mais singela e de temáticas do quotidiano da classe média , diferente da monumentalidade e dos temas eruditos (históricos e mitológicos) da arte do sul.”
Citação de uma passagem de um texto encontrado na Internet : “A nova ordem que se instaurou nos Países Baixos a partir da trégua, firmada em 1609, trouxe diferenças culturais importantes entre o sul, sob domínio da corte católica espanhola, e as províncias do norte, protestantes. A inexistência da devoção a imagens nos cultos protestantes desvinculou a Arte da Igreja. Para além disso, a ausência nas Províncias Unidas de uma cultura palaciana propiciou o desenvolvimento de uma arte mais singela e de temáticas do quotidiano da classe média , diferente da monumentalidade e dos temas eruditos (históricos e mitológicos) da arte do sul.”
Uma vez que, nas nossas Comunidades, fazemos sempre leituras complementares – que deixo, evidentemente, ao critério de cada leitor(a)- atrevo-me a sugerir, para quem se interessa por este período ( o século XVII nos Países Baixos) três livros muito interessantes:
1º - “A Febre das Túlipas” de Deborah Moggach, edição portuguesa da Asa, um romance sobre o “boom” económico relacionado com as túlipas (e não só) que deu origem à construção de grandes fortunas, alterou a sociedade e o gosto e permitiu o mecenato de artistas.
2 – “Girl in Hyacinth Blue” de Susan Vreeland, outro romance que foca, também, a vida de Vermeer e a hipótese da existência de mais um quadro, o 26º, que poderia ser da sua autoria e que se chamaria exactamente “Girl in Hyacinth Blue”. Tudo é possível, uma vez que a discussão sobre a autoria dos seus quadros e as peculiaridades da sua pintura continuam em aberto.
3 – Para quem deseja saber (ainda) mais, recomendo a leitura do estudo “Vermeer and His Milieu: A Web of Social History” de John Michael Montias, considerada a melhor obra sobre o artista cuja vida e obra continuam cheias de mistérios.
1º - “A Febre das Túlipas” de Deborah Moggach, edição portuguesa da Asa, um romance sobre o “boom” económico relacionado com as túlipas (e não só) que deu origem à construção de grandes fortunas, alterou a sociedade e o gosto e permitiu o mecenato de artistas.
2 – “Girl in Hyacinth Blue” de Susan Vreeland, outro romance que foca, também, a vida de Vermeer e a hipótese da existência de mais um quadro, o 26º, que poderia ser da sua autoria e que se chamaria exactamente “Girl in Hyacinth Blue”. Tudo é possível, uma vez que a discussão sobre a autoria dos seus quadros e as peculiaridades da sua pintura continuam em aberto.
3 – Para quem deseja saber (ainda) mais, recomendo a leitura do estudo “Vermeer and His Milieu: A Web of Social History” de John Michael Montias, considerada a melhor obra sobre o artista cuja vida e obra continuam cheias de mistérios.
2 comentários:
Na sequência do “post” da Helena sobre o livro a “Rapariga com o brinco de pérola” senti a necessidade de vos apresentar uma dúvida que me surgiu no decorrer da respectiva leitura. Com efeito, sendo a “camera obscura”, um objecto quase mágico para Griet, assumiu por outro lado, um papel determinante para Vermeer na execução das suas obras e também na relação deste com o cientista Antony van Leeuenhoek. Não obstante, conhecer o princípio de funcionamento óptico da “camera obscura” desconhecia, no entanto, a controvérsia suscitada entre os estudiosos da obra de Vermeer sobre a sua “exagerada” utilização na execução dos quadros. Ou seja, da leitura do texto intitulado “Vermeer and the camera obscura” de Philip Steadman que consta no “site” www.bbc.co.uk/history/bristish/empire_seapower/vermeer_camera_print.html, o autor refere que Vermeer não só pintou pequenos quadros directamente a partir do esboço feito sobre o vidro da “camera obscura”, como conseguiu projectar as imagens do que pretendia pintar sobre telas com as dimensões da parede do estúdio, situado no 1º andar da casa onde habitava. Neste último caso, parece-me ser bastante difícil projectar a imagem de algo a uma distância de alguns metros, mesmo num estúdio completamente às escuras, com a intensidade luminosa do Sol na latitude dos Países Baixos. Gostava que este ponto fosse analisado na nossa próxima sessão a fim de me ajudarem esclarecer esta dúvida. Em meu entender, Vermeer utilizava com alguma frequência a “camera obscura” como um meio facilitador para produzir com rapidez as suas obras tendo em conta as dificuldades financeiras que o afligiam. Será que a tese do supracitado autor visa minorar a obra do artista?
Noutro âmbito, percorri, virtualmente, a zona da cidade de Delft onde decorreu durante doze anos este romance histórico através do Tourist city map Delft que consta no “site” http://www.delft.nl/webEN/ e que me ajudou a constextualizar melhor a leitura. Até 4ª feira.
Raul Ramos Gouveia
A propósito da "Transfiguração" de Rafael escreve Nietzsche, in ECCCE HOMO:«...a essência de um homem é a transfiguração de uma história em lenda, de uma existência trágica porque imprevisível em destino acabado, transfiguração que só se opera com a morte...». Marcel Proust,in "A la recherche du temps perdu" coloca magistralmente a questão da obra de arte: «...ver Ver Meer (o nome já é um destino, Ver Meer - Do Mar, e Proust escreve mesmo Ver Mer)e morrer.
Ver Ver Meer e morrer... às portas da morte, o escritor Bergotte (um alter ego de Proust)dirige-se au Jeu de Paume e é diante da "Vista de Delft" que faz o seu próprio juízo final:«...dans une céleste balance lui apparaissait, chargeant l'un des plateaux,sa propre vie, tandis que l'autre contenait le petit pan de mur si bien peint en jaune. Il sentait qu'il avait imprudemment donné la première pour le second...». E morre... Umas linhas mais e Proust faz a pergunta (lembram-se de «Ask a Embla» na »Possessão» de A.S. Byatt):«...Mort à jamais? Qui peut le dire?...» Paradoxalmente, e quanto a mim com profunda ironia, Proust termina:«...l'idée que Bergotte 'était pas mort à jamais est sans invraiesemblance...».
A relação entre a Metafísica e a Estética em Proust mereciam uma reflexão em comunidade. Parece-me haver na sua obra uma religião estética ao modo do Romantismo alemão (Schelling, Holderlin)- a religião do que se vê, do que se sente, do que se apalpa,se exprime em sons e em palavras. Só a exigência estética responde ao desejo de absoluto em Proust, mas a sua relação com a pintura vai aprofundar a ideia da coincidência das artes...
A arte ou a vida, a vida ao serviço da arte e com que risco? A obra e o artista mergulharem no esquecimento?
Por um acaso do destino não foi o que aconteceu com a Esfinge de Delft. Redescoberta a sua pintura por Théophile Thoré, nos finais do Séc.XIX, quer a obra quer o artista tem vindo a inspirar um imenso aparato crítico, já não falando dos milhares de pessoas que observam a pintura, quer directamente nos museus quer através de reproduções mais ou menos fiéis.
«A rapariga do brinco de pérola», a «Mona Lisa» do Norte, tornou-se objecto privilegiado de análise e daí o «oportunismo» de Tracey Chevalier e o seu sucesso literário e cinematográfico.
Não importa, o que interessa é aquilo a que Louis Marin chama a «metáfora erótica», a relação entre o olhar e o quadro é uma relação de desejo e o prazer é tanto melhor quanto mais retardado. Todo o quadro produz esse jogo do retardamento do olhar, todos os elementos do quadro e do seu contexto entram nesse contrato com o espectador. Mas quando o mistério se prolonga do ponto de vista daquele que o cria, como no caso de Vermeer, il y a un surplus de jouissance!
Quem quiser leia de Louis Marin, Des Pouvoirs de l'image - Gloses, Ed. Seuil, Paris, 1993.
Ainda, sobre a wagneriana «morte e transfiguação» ler de Emile Bedriomo, Proust, Wagner et la coicidence des Arts, Ed. Place, Paris, 1984.
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