Ontem, dia 3 de Fevereiro, a Comunidade de Leitores na Culturgest não correu bem. O livro que discutimos foi “O Deus das Moscas” de William Golding, o que talvez não predispusesse à boa disposição. A sala estava cheia, faltavam cadeiras e lá nos fomos acomodando. A história de um grupo de rapazes que fica preso numa ilha deserta e que rapidamente perde as boas maneiras e os traços civilizacionais adquiridos para mergulhar na violência e na barbárie é, desde 1954 – ano da sua publicação – um livro de culto. Golding escreveu-o no rescaldo da IIª Grande Guerra e o que viu no campo de batalha - mais propriamente, no mar - deixou-o sem grandes esperanças em relação à bondade do ser humano. Ele serviu na Marinha e tomou parte no desembarque na Normandia, o que lhe proporcionou uma visão nada optimista de um mundo em colapso moral, social, físico e psicológico. Tratámos de discutir os temas centrais do livro: a essência do mal – e a do bem – o aspecto político – democracia versus tirania – e a incapacidade dos seres humanos de se unirem para sobreviver, preferindo a luta pelo poder, etc.
Um tema que vem muito a propósito nos tempos sombrios que atravessamos.
Referimos cada personagem e a sua respectiva posição e representação na trama, o confronto entre os aspectos dionisíacos e apolíneos do romance, a abordagem “pagã” e a abordagem “bíblica” bem como os aspectos mais práticos como a dinâmica de grupos, etc. Também abordámos a questão do MEDO - de as pessoas viverem no medo, o que as empurra para situações dramáticas e as leva a actuar de uma forma irracional. Entretanto, continuavam a chegar pessoas, estava quente e um homem que nunca tínhamos visto sentou-se ao meu lado no sofá e prontamente adormeceu, vergado sobre o braço da poltrona como se fosse uma marioneta. À medida que eu ia tentando dirigir a sessão olhava-o de relance para ver se não estava desmaiado – acordava de vez em quando e dizia, anhhh, anhh, ah, sim, ah, sim?. Depois foi uma das participantes que se irritou e abandonou a sala batendo com a porta, de tal forma zangada que deixou ficar a carteira na respectiva cadeira, o que obrigou uma das muito simpáticas assistentes da Culturgest a entrar para “salvar” a mala. Outro participante defendia Jack Merridew e os caçadores do livro, enquanto uma admirável jovem quase chorava com pena de Piggy e repetia: “eu defendo o Piggy até à morte”!
Não, ontem a sessão não correu nada bem.
Não, ontem a sessão não correu nada bem.
4 comentários:
Surreal!
A próxima corre melhor...
Olá a toda a Comunidade
Tenho uma opinião contrária à da Helena. Queria dar-lhe os parabens pela forma como soube dinamizar e motivar a participação de todos os leitores. Acho que sintetizou muito bem as várias visões apresentadas do livro.
Foi a primeira vez que assisti à vossa Comunidade de Leitores gostei muito. Habitualmente a discussão de um livro é monopolizada por duas ou três pessoas e os restantes assistem intervindo a medo e isso não aconteceu.
Parabens Helena.
Comunidade de leitores???
Acabei de a descobrir agora, quando colocava no meu blog uma entrada sobre este livro...
Gostei...
Claro que não posso estar de acordo consigo,Helena, quando diz que a sessão não correu bem ! Na verdade, todos esses incidentes aconteceram ... mas a discussão sobre o livro foi muito participada e interessante , como é hábito em todas as sessões que tão bem dinamiza.
É um prazer participar nas suas Comunidades de Leitores.
Obrigada, Helena, por tornar a leitura dos livros que escolhe, ainda mais fascinante.
Até dia 17 !
Dina Correia
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