8 de Fevereiro de 2011. O dia está quase a terminar. Em todo o lado nos jornais, nas redes sociais, falou-se muito de muita gente: de Samuel Butler (1612), de John Ruskin (1819), de Julio Verne (1828) e de James Dean (1931) que nasceram neste dia do ano.
Elizabeth Bishop que nasceu há cem anos. foi totalmente esquecida.
Sim, não foi referido o centenário do nascimento da grande poeta americana Elizabeth Bishop que nos ensinou a todos que "não é difícil dominar a arte da perda" - de coisas, de pessoas, de horas, de cidades, de casas, de tudo o que enche e preenche os nossos dias.
Perdemos mais um dia sem falarmos de Bishop. Por ser mulher e lésbica? Por a mãe ter enlouquecido, por a amante brasileira se ter suicidado? Esquecemo-la apesar de ter ganho prémios sobre prémios (Pulitzer em 1956, National Book Award em 1970, dois Guggenheim's, entre outros)? Apesar de ter sido amiga de Robert Lowell com quem trocou uma vasta correspondência até à morte de Lowell, em 1977? Será que esquecemos o seu prazer em viajar, as suas casas em França e no Brasil, a relação tumultuosa com a arquitecta e "socialite" Lota de Macedo Soares que durou quinze anos?Será que não temos tempo para reler a sua obra, detectar a influência de Marianne Moore que Bishop conheceu no seu último ano em Vassar e que a protegeu, amparou e promoveu, reconhecendo-lhe o enorme talento. Sim, porque Elizabeth que escreveu "In the Waiting Room", lembrando a sua infância de órfã com os severos avós paternos,
you are an I,
you are an Elizabeth,
you are one of them.
Why should you be one, too?
you are an Elizabeth,
you are one of them.
Why should you be one, too?
(...)
... foi a mesma que, em Vassar, onde ingressou em 1930, fundou uma revista "alternativa" - chamada Con Spirito - com as suas amigas e companheiras Mary McCarthy e Eleanor Clark. Em Setembro de 2010, o escritor William Boyd publicou um texto no jornal Guardian sobre a sua visita - quase uma peregrinação - aos lugares onde viveu, no Brasil, aquela a que chama "a escritora dos escritores".
O texto de Boyd começa assim:
"Apartamento 1011, 5 Rua Antonio Vieira, Leme, Rio de Janeiro – this was Elizabeth Bishop's first address in Brazil. A few weeks ago I stood on the wavy black and white mosaic sidewalk of Copacabana beach gazing up at the 1940s building opposite. Eleventh floor, penthouse corner apartment. I tried to imagine Bishop looking out over the view. Not that much has changed here in Leme (apart from the odd skyscraper) – most of the apartment blocks fronting the ocean are from the 40s and 50s. Bishop's building is at the eastern end of the beach. West, a few blocks away, is the famous Copacabana Palace Hotel. On the hill behind the apartment I could see the vertically clustered shacks of the Favela Chapéu Mangueira on Babilônia Hill..."
E segue por aí fora ao longo de várias entradas que seguem o abecedário - começa com A de Apartamento e acaba com Z de Zona - e definem Bishop, pelo menos no que diz respeito ao seu tempestuoso, turbulento, terrível tempo brasileiro.
The Art of Losing
The art of losing isn't hard to master; so many things seem filled with the intent to be lost that their loss is no disaster, Lose something every day. Accept the fluster of lost door keys, the hour badly spent. The art of losing isn't hard to master. Then practice losing farther, losing faster: places, and names, and where it was you meant to travel. None of these will bring disaster. I lost my mother's watch. And look! my last, or next-to-last, of three beloved houses went. The art of losing isn't hard to master. I lost two cities, lovely ones. And, vaster, some realms I owned, two rivers, a continent. I miss them, but it wasn't a disaster. -- Even losing you (the joking voice, a gesture I love) I shan't have lied. It's evident the art of losing's not too hard to master though it may look like (Write it!) a disaster. |
1 comentário:
http://afadigadaladeira.blogspot.com/2011/01/para-nao-perder-o-que-nos-faz-falta.html#comments
curiosa coincidência.
obrigada pelo seu blog.
há anos que adio criar uma comunidade de leitores no porto. o seu trabalho foi inspirador.quem sabe?
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