Acabei de ler o último romance de le Carré - isto é, do senhor David Cornwell - e escrevi um texto sobre este livro para o Ípsilon - Público. (Não sei quando sairá mas avisar-vos-ei). "Um Traidor dos Nossos" mostra a grande maestria do autor, o seu humor negro e uma espécie de desespero "filosófico" perante o barulho do mundo. Le Carré não poupa nada nem ninguém: a conivência dos governos, das entidades reguladoras e dos chamados "impérios financeiros" com as máfias e o submundo - tendo em vista lucros cada vez mais astronómicos - a ingenuidade dos "idealistas" e a indiferença geral da população perante as manigâncias do poder. É um livro amargamente cómico e alegremente trágico. A edição é da D. Quixote, Lisboa, 2010. Tradução de J. Teixeira de Aguilar.
Aqui fica uma pequeníssima passagem.
Diz Hector a Perry: (pág. 123) - sobre os Serviços Secretos britânicos:
" Sabemos o que o senhor pensa de nós. Alguns de nós pensamos o mesmo, e temos razão. O problema é que somos a única coisa que se aproveita. O governo é uma desgraça e metade do funcionalismo público não mexe uma palha. Os Negócios Estrangeiros têm tanta utilidade como uma viola num enterro, o país está de tanga e os banqueiros ficam-nos com o dinheiro e fazem-nos um manguito. Que havemos nós de fazer? Queixinhas à mamã, ou consertar as coisas?"
Haverá algo que soa familiar, neste cenário?
E quem diz que "conserta" as coisas será de fiar?
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