sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um cenário magistral para uma peça que o não merece


Ontem fui ver Agosto em Osage de Tracy Letts, ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. E detestei. Não percebo como é que um texto, com colagens decalcadas descaradamente de Tenesse Williams, de Faulkner e de Jim Thomson ( não são influências, são autores que ele copia sem vergonha) com piscadelas de olho a tudo e todos - incluindo aos "nativos americanos", mais uma vez achincalhados pelo mau gosto - em que cabe tudo, do suicídio ao incesto, da violação à loucura, de traição a abandono, pode ter ganho um Pulitzer. Não percebo como é que uma grande senhora como a Fernanda Lapa - que muito prezo e admiro - deixa Lia Gama aos gritos e aos tombos, a tomar conta das cenas sem dar espaço aos outros actores - alguns deles óptimos como João Grosso ( que mal aparece) , Isabel Medina, Mário Jacques ( que começa tão bem a peça) ou Luis Lucas - a dar uma de Blanche DuBois, misturada com a versão burlesca da Martha de "Who's Afraid of Virginia Woolf." Não percebo como é que um cenário tão belo, funcional e maravilhoso - de António Lagarto - acolhe tanto disparate e um texto tão infeliz ou como uma peça daquelas vai parar a um Teatro Nacional. Não percebo como é que o público se fartou de rir alarvemente ou nervosamente - o problema é meu, evidentemente - quando se trata da história de uma família disfuncional, dramaticamente dividida e amputada por uma louca viciada, em que uma miúda de quinze anos é violada, um homem se mata, três irmãs se odeiam e o resto é ruído. Tracy Letts é um produto dos tempos Bush, com a sua moralidade duvidosa? Expliquem-me por favor.

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