quinta-feira, 30 de julho de 2009

Raymond Carver



COLLECTED STORIES - Will You Please Be Quiet, Please? What We Talk About When We Talk About Love, Cathedral, Stories from Furious Seasons, Fires, and Where I’m Calling From, Other Stories and Selected Essays, Beginners Edited by William L. Stull and Maureen P. Carroll
O prazer que, cava vez mais, sentimos ao ler Raymond Carver, o escritor americano que morreu em 1988, com cinquenta anos, advém de múltiplos factores: a sua capacidade para desenhar cenários miniaturistas onde personagens comuns de repente se encontram em situações bizarras, a capacidade para, em poucas linhas, criar um universo completo, uma atmosfera e a corrente de sensações e paixões entre as pessoas. Chamam-lhe, com justiça, o génio da escrita minimalista, escrita essa que tem influenciado gerações de escritores , desde então. Mas uma nova edição dos seus contos mostra que a escassez de palavras aliada a uma mestria perfeita são fruto, não só da já famosa "falta de tempo" - ele tinha múltiplos empregos e nenhum dinheiro - que o obrigava a escrever em pequenos pedaços de papel nos lugares mais improváveis mas, também, porque o seu editor, Gordon Lish lhe cortava drasticamente - mesmo brutalmente - os contos. Lish foi primeiro editor de Carver na revista Esquire, a seguir na McGraw-Hill, onde foi publicado o seu primeiro volume de contos "Will You Please Be Quiet, Please?" (1976) e, mais tarde na Alfred A. Knopf que publicou o livro que o tornou famoso (também de contos) "What We Talk About When We Talk About Love". A segunda mulher de Carver, a poeta e romancista Tess Gallagher tem conservado e divulgado a obra do marido e recuperou alguns contos na versão anterior à "censura" de Lish. Por isso, aconselho uma releitura de Carver - está editado em português. É uma lição de bem escrever.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Booker Prize


Caros e caras editores(as)
Acabaram de ser anunciados os autores e obras que constam da "long-list" para a escolha do Man Booker Prize deste ano. Destes já li três. Todos bons. Vamos a ver quem será o(a) favorito (a). Aqui fica a lista:


Author Title Publisher


Byatt, AS The Children's Book Random House - Chatto and Windus
Coetzee, J M Summertime Random House - Harvill Secker
Foulds, Adam The Quickening Maze Random House - Jonathan Cape
Hall, Sarah How to paint a dead man Faber and Faber
Harvey, Samantha The Wilderness Random House - Jonathan Cape
Lever, James Me Cheeta HarperCollins - Fourth Estate
Mantel, Hilary Wolf Hall HarperCollins - Fourth Estate
Mawer, Simon The Glass Room Little, Brown
O'Loughlin, Ed Not Untrue & Not Unkind Penguin - Ireland
Scudamore, James Heliopolis Random House - Harvill Secker
Toibin, Colm Brooklyn Penguin - Viking
Trevor, William Love and Summer Penguin - Viking
Waters, Sarah The Little Stranger Little, Brown - Virago
Já cá tenho em casa quatro deles: o da Byatt, o da Mantel, o do Toibin e o da Waters. Embora não seja totalmente fã do Toibin, "Brooklyn" é um belo livro. Comecei "Wolf Hall", um enorme romance histórico e, nem de propósito, depois do meu livro, saiu o da Byatt que ainda não li mas que folheei e me parece óptimo. O da Waters vai a seguir e já mandei vir o Coetzee. Depois conto-vos mais coisas.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Alice Hoffman



"Confissões ao Luar" da americana Alice Hoffman é um daqueles casos em que a capa e o título são perfeitamente desastrosos e repelem, em vez de atrair. Se não fosse eu já conhecer a autora de outras obras, não teria pegado neste. E afinal é um romance muito interessante, forte e pungente. É um drama familiar, uma fábula sobre os efeitos da paixão e sobre as forças negativas de personalidades irreconciliáveis. É sobre o amor e o ódio entre pessoas da mesma família - disfuncional, complexa - e sobre a fantasia da infância e adolescência, sobre as desilusões na idade adulta e como lidar (ou não) com elas. É realista, brutal e, ao mesmo tempo, estranhamente poético. A casa de vidro que habitam é uma metáfora sobre a fragilidade da vida, o orgulho e o fosso que existe entre as fantasias e a vida de todos os dias. Um livro que aconselho.

Alice Hoffman, que nasceu em 1952, é também autora de livros para crianças e adolescentes. mesmo aqui, um livro para adultos, ela mostra que está familiarizada com o universo da infância e dos teenagers principalmente no que diz respeito às dificuldades no crescimento e o confronto com dramas inultrapassáveis. Hoffman tem, também, a particularidade de introduzir cenas oníricas - chamam-lhe realismo mágico mas não gosto dessa classificação - e de tratar o tema de ralações amorosas que não são as mais convencionais, no género "romance".

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Hoje é dia de Poema - Os Ricos


Tenho pensado muito nos ricos e na crise que atravessam - banqueiros, gestores, eu nem sei como eles se chamam, são tantos, coitadinhos. O Governo, os comentadores, os políticos e não políticos, à esquerda, à direita, ao centro, em baixo e em cima só falam dos pobres. E então os ricos? Por isso, aqui vai um poema do Charles Tomlinson. É o da semana no Times Literary Supplement.





The Rich
I like the rich – the way
they say: 'I'm not made of money':
their favourite pastoral
is to think they're not rich at all –
poorer, perhaps, than you or me,
for they have the imagination of that fall
into the pinched decency
we take for granted.
Of course,they do not want to be wanted
by all the skivvies and scrapers
who neither inherited nor rose.But are they daft or deft,
when they proclaim themselves
men of the left, as if prepared
at the first premonitory flush
of the red dawn
to go rushing into the street
and, share by share,
add to the common conflagration
their scorned advantage?
They know that it can't happen
in Worthing or Wantage:
with so many safety valves
between themselves and scalding,
all they have to fear
is wives, children, breath and balding.
And at worst
there is always some sunny
Aegean prospect. I like the rich –
they so resemble the rest
of us, except for their money.

Ontem foi dia de RTPN

Ontem, gravei umas coisas, a convite - muito simpático - da Isabel Gomes da RTPN, para o seu programa "Estação das Artes". Foi ao fim da tarde no CCB com o rio ao fundo e uma luz que só existe em Lisboa. O pretexto era a inevitável questão de "livros para férias". É difícil porque, para mim, férias, é um estado em que (quase) não leio. É estar a olhar para o mar, nadar, apanhar sol e ficar a divagar sobre coisas boas e a escrever livros na minha cabeça. É fazer compras e andar descalça todo o dia. É comer, beber, dormir e estar bem acompanhada, com silêncios e ao ritmo natural do tempo. É verdade que não faço férias dessas há milhares de anos. Mas, enfim, nada disto tem importância e ontem, fartei-me de recomendar livros. A maior parte deles, calhamaços de todo o tamanho o que provavelmente, desmotivará os mais afoitos. Mas talvez seja esta a altura para voltar a ler "A Montanha Mágica" de Thomas Mann (nova edição impecável da Dom Quixote) e outros "clássicos" que estão a ser reeditados - obras de John dos Passos (Ed Presença), de Balzac, Yourcenar, Conrad, uma quantidade deles. Uma espécie de Natal para os bibliófilos.

sábado, 11 de julho de 2009

Centenários e Notícias


Nota: A fotografia de Nelson Algren em Division Street é do seu amigo Art Shay. O retrato de Swinburne pode ser de Dante Gabriel Rossetti mas não tenho a certeza


Tenho estado sem Internet, sem visitas ao Facebook e a trabalhar recorrendo às velhas Enciclopédias - para datas e verificação de dados - das quais não me desfaço nem por nada porque isto das novas tecnologias é muito bonito... quando funcionam. Rapidamente, e antes que o sinal desapareça como tem acontecido nestes últimos dias, gostava de vos contar que estive a escrever um texto para o Público sobre o último livro do Miguel Sousa Tavares, uma tarefa que é uma espécie de "batata quente"que me atiraram para as mãos, mas que fiz com prazer. Também reparei que os editores portugueses não têm ligado nenhuma ao facto de, este ano, se comemorar o centenário do nascimento do escritor norte-americano Nelson Algren. Creio - e posso estar muito enganada - que não existem traduções portuguesas de "Man With the Golden Arm" - que foi passado para o cinema pelo Otto Preminger com um Frank Sinatra a fazer de drug addict - nem de "A Walk on the Wild Side" que também foi adaptado ao cinema. São bons romances, duros e violentos e o próprio Algren - mais conhecido pelo affair tórrido com Simone de Beauvoir - é uma figura interessante. Escrevi um texto sobre ele que irá sair na revista ELLE de Outubro - meteu-se pelo meio outro texto sobre o Elia Kazan que não é personagem das minhas simpatias, antes pelo contrário, mas cujo centenário também é de assinalar, este ano - e avisar-vos-ei quando aparecer.
Outra efeméride que merece uma nota: os 100 anos sobre a morte do poeta Swinburne. O esquecimento não é de admirar, neste caso: Swinburne com o seu sentimentalismo - apreciado pelos pré-rafaelitas - é já um pouco indigesto mas tem algumas coisas excitantes como o poema em que ele sonha que visita Lesbos:
Ah the singing, ah the delight, the passion!
All the Loves wept, listening; sick with anguish,
Stood the crowned nine Muses about Apollo;
Fear was upon them,
While the tenth sang wonderful things they knew not.
Ah the tenth, the Lesbian! the nine were silent,
None endured the sound of her song for weeping; Laurel by laurel,
Faded all their crowns; but about her forehead,
Round her woven tresses and ashen temples
White as dead snow, paler than grass in summer,
Ravaged with kisses,
Shone a light of fire as a crown forever.
Yea, almost the implacable Aphrodite
Paused, and almost wept; such a song was that song.
Yea, by her name too ...
E vai por aí fora, não consigo transcrever mais. A Rainha Vitória gostava bastante.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

De volta


Regressei a casa, depois de uns dias no Alentejo. Tinha resolvido "descansar" mas levei as minhas netas e... o resto é história. No entanto - e como estava a tentar gozar aquilo a que os comuns mortais chamam "férias" - levei para ler o último livro da trilogia Millennium do pobre do Stieg Larsson - "A Rainha no Palácio das Correntes de Ar". É fascinante, não tão emocionante como os outros dois, mas com informação muito específica - neste caso sobre a "secreta" sueca e, por extensão, sobre o jogo sujo das "secretas" em todo o mundo (ou quase). Mostra bem como o terrorismo serve de pretexto para os maiores abusos.

Estou a menos de meio - e vou ter que deixar o resto para depois porque tenho trabalho à minha espera - mas já me apercebi de uma coisa. Tudo o que li sobre o livro diz que é mais centrado na figura da Lisbeth Salander: é verdade em termos do seu passado mas não em termos de acção. Até agora, ela ainda está presa no hospital. O que dá para ver é que o Stieg Larsson devia ser um jornalista genial. E incómodo. Este livro mostra um trabalho de investigação bastante alargado. No entanto, é um romance e não me esqueço desse pormenor. Deixo-vos com estas pistas. Agora, vou trabalhar.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Um cenário magistral para uma peça que o não merece


Ontem fui ver Agosto em Osage de Tracy Letts, ao Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa. E detestei. Não percebo como é que um texto, com colagens decalcadas descaradamente de Tenesse Williams, de Faulkner e de Jim Thomson ( não são influências, são autores que ele copia sem vergonha) com piscadelas de olho a tudo e todos - incluindo aos "nativos americanos", mais uma vez achincalhados pelo mau gosto - em que cabe tudo, do suicídio ao incesto, da violação à loucura, de traição a abandono, pode ter ganho um Pulitzer. Não percebo como é que uma grande senhora como a Fernanda Lapa - que muito prezo e admiro - deixa Lia Gama aos gritos e aos tombos, a tomar conta das cenas sem dar espaço aos outros actores - alguns deles óptimos como João Grosso ( que mal aparece) , Isabel Medina, Mário Jacques ( que começa tão bem a peça) ou Luis Lucas - a dar uma de Blanche DuBois, misturada com a versão burlesca da Martha de "Who's Afraid of Virginia Woolf." Não percebo como é que um cenário tão belo, funcional e maravilhoso - de António Lagarto - acolhe tanto disparate e um texto tão infeliz ou como uma peça daquelas vai parar a um Teatro Nacional. Não percebo como é que o público se fartou de rir alarvemente ou nervosamente - o problema é meu, evidentemente - quando se trata da história de uma família disfuncional, dramaticamente dividida e amputada por uma louca viciada, em que uma miúda de quinze anos é violada, um homem se mata, três irmãs se odeiam e o resto é ruído. Tracy Letts é um produto dos tempos Bush, com a sua moralidade duvidosa? Expliquem-me por favor.