Depois da sessão de ontem da Comunidade de Leitores – David Lodge e "o perigo de se estar vivo", a fragilidade da velhice e a solidão com momentos hilariantes, durante duas e tal horas muito empolgantes e intensas – regressei hoje às minhas leituras e escritas.
Mandei vir a recente edição das cartas do escritor de viagens Bruce Chatwin " UNDER THE SUN. The Letters of Bruce Chatwin" numa edição da mulher, Elizabeth Chatwin, e do seu biógrafo Nicholas Shakespeare, Ed. Viking. Confesso que gosto muito dos livros de Chatwin – ou pelo menos gostei, nos anos 70 e 80, não os reli recentemente – mas a sua personalidade sempre me provocou sentimentos contraditórios. No entanto, como as pessoas excêntricas me atraem, não resisti a comprar mais este volume. Chatwin, autor de “Na Patagónia”, “O Vice-rei de Ajudá” , “Que Faço eu Aqui” e “ O Canto Nómada”, entre outros, nasceu em 1940 e morreu de sida em 1989. Trabalhou como jornalista no Sunday Times Magazine e ficou famosa a sua carta de demissão onde escreveu apenas, “Fui para a Patagónia”. Foi antiquário mas principalmente viajante e atraía tanto homens como mulheres com o seu ar de rapaz atrevido – na realidade, Chatwin era totalmente narcísico e havia nele qualquer coisa de "podre" como afirma Dwight Garner. O mais interessante tem a ver com as suas incontáveis viagens solitárias, os seus hábitos pouco "ortodoxos" – conta-se que fazia caminhadas pelo campo, nu, com botas e flores atadas ao pénis – a sua amizade com Susan Sontag – que dizia que Chatwin era o único amigo capaz de partilhar com ela uma refeição em Chinatown de "intestinos fritos e unhas dos pés" – e com Paul Theroux. Foi através de Sontag que poderá ter conhecido Sam Wagstaff, o patrono e amante de Robert Mapplethorpe que Chatwin dizia ter sido quem o infectou com o HIV – outras vezes contava que tinha sido repetidamente violado no Daomé. Na sua correspondência, torna-se visível o tipo de relação que teve com a mulher de quem viveu separado a maior parte do tempo – casaram em 1965 – mas que o tratou devotadamente durante a doença. Uma personagem complexa e trágica que provocou polémicas devido ao facto de nem sempre descrever as culturas, as pessoas e os lugares que conheceu com objectividade. Ao fim e ao cabo Chatwin era um escritor e não um sociólogo, historiador ou antropólogo…
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Comunidade de Leitores na Culturgest, Lisboa
Dia de Comunidade de Leitores, dia de David Lodge e de "A Vida em Surdina", ainda no âmbito do ciclo dedicado ao "medo".
Um professor aposentado, surdo e a braços com a sua crescente incapacidade; a mulher, rejuvenescida e activa; a discípula provocante e perturbada; o pai viúvo, solitário, a perder o juízo: os filhos a viverem as suas vidas. Se nos dois primeiros livros que lemos, "A Insígnia Vermelha da Coragem" de Stephen Crane e "O Deus das Moscas" de William Golding, analisámos acontecimentos em situações "excepcionais" – guerra, desastres – agora estamos em território "normal", até mesmo banal, inerente à vida de todos nós. O que David Lodge faz, com a sua incomparável mestria, é retomar os grandes temas da tragédia e da comédia clássicos e juntá-los numa mesma obra. A frase-chave de "A Vida em Surdina", que em inglês se chama "Deaf Sentence" , uma ambiguidade (deaf-surdo/dead-morto) impossível de traduzir à letra, é a seguinte: " a cegueira é trágica, a surdez é cómica".
É claro que todos somos cegos e surdos a qualquer coisa ou em relação a alguém, a cada instante. No livro existem muitas evidências deste fenómeno. Por isso, a nossa vida é tão complicada, por isso é que os nossos medos se avolumam. E será sobre isto tudo que iremos conversar, hoje, a partir das 18:30 na Culturgest, em Lisboa.
Um professor aposentado, surdo e a braços com a sua crescente incapacidade; a mulher, rejuvenescida e activa; a discípula provocante e perturbada; o pai viúvo, solitário, a perder o juízo: os filhos a viverem as suas vidas. Se nos dois primeiros livros que lemos, "A Insígnia Vermelha da Coragem" de Stephen Crane e "O Deus das Moscas" de William Golding, analisámos acontecimentos em situações "excepcionais" – guerra, desastres – agora estamos em território "normal", até mesmo banal, inerente à vida de todos nós. O que David Lodge faz, com a sua incomparável mestria, é retomar os grandes temas da tragédia e da comédia clássicos e juntá-los numa mesma obra. A frase-chave de "A Vida em Surdina", que em inglês se chama "Deaf Sentence" , uma ambiguidade (deaf-surdo/dead-morto) impossível de traduzir à letra, é a seguinte: " a cegueira é trágica, a surdez é cómica".
É claro que todos somos cegos e surdos a qualquer coisa ou em relação a alguém, a cada instante. No livro existem muitas evidências deste fenómeno. Por isso, a nossa vida é tão complicada, por isso é que os nossos medos se avolumam. E será sobre isto tudo que iremos conversar, hoje, a partir das 18:30 na Culturgest, em Lisboa.
segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011
Leituras de fim-de-semana
Passei o fim-de-semana a ler o que, no meu caso, é como fazer um maratonista a preparar-se para uma caminhada de centenas de quilómetros. Não sou o Professor Marcelo Rebello de Sousa que lê vinte livros numa só noite mas quando vejo a pilha dos "não-lidos" a aumentar perigosamente, há que fazer um esforço.
Para já, quero referir o óptimo trabalho da editora Temas e Debates que pôs cá fora, em rápida sucessão, reedições de três obras fundamentais para a formação filosófica, política e literária de qualquer ser humano que se preze. São livros para consulta frequente e para releituras assíduas:
"Tratado Político" de Espinosa
"O Príncipe" de Maquiavel
"O Cânone Ocidental" do decano Harold Bloom, este último um utensílio indispensável – embora de conteúdo polémico, o que é sempre uma boa coisa – para quem quer que se interesse por Literatura. O único português incluído é, evidentemente, Fernando Pessoa por quem Bloom tem uma verdadeira obsessão.
Quanto a outros livros:
“Mão Morta. Um Crime em Calcutá” do veterano de literatura de viagens – e não só – Paul Theroux, (Ed. Quetzal) com um relato de crimes e castigos no ambiente tórrido e húmido da populosa cidade asiática. Tão elogiado como criticado, este romance é uma espécie de tributo à Índia – caótica, fascinante, para alguns, repelente – e para quem gosta, com longas e por vezes exaustivas descrições de sexo tântrico. Theroux é um desses autores que sem nunca chegar aos píncaros, não tem dificuldade em mostrar a sua competência e versatilidade. Mistura géneros, liberta-se de dogmas e fala do que lhe interessa. Theroux que é filho de um canadiano e de uma italiana e foi escuteiro e católico na juventude, tem levado uma vida de aventuras e viajado por todo o mundo. Num dos seus primeiros livros, passado em África – “amor à primeira vista “ – escreveu sobre “a futilidade das políticas africanas e a desintegração da vida tribal”.
Também li, numa noite em que recordei os tempos em que só apagava a luz de madrugada, “O Último Homem Americano” de Elizabeth Girlbert, Ed Bertrand. E ADOREI. É um livro sobre a figura (real) de Eustace Conway, que vive como os primeiros pioneiros americanos ou, mais propriamente como os nativos americanos antes do avanço industrial e tecnológico. Mas não pensem que é (apenas) uma apologia do “bom selvagem” ou uma história sobre um hippie retardado. Eustace é um fenómeno e é preciso ler o livro para perceber que Gilbert desejou falar – e fá-lo de uma forma inteligente – sobre o que significa a “vida alternativa” e como estas podem ser mantidas ou, como na maioria dos casos, destruídas em pouco tempo. Gilbert é divertida, entusiasta e apesar de eu saber calcular que poucas pessoas falarão do livro nos jornais – muito “light” – eu li tudo com o maior prazer, enquanto relembrava a minha própria infância quando, em África, tal como Eustace nos Estados Unidos, as crianças iam para o mato brincar sem supervisão de adultos e comíamos formigas, raízes, bagas e apanhávamos cobras e outros animais. Uma espécie de viagem desvairada - como as que fez Eustace - a um ponto de não retorno. Eustace Conway é uma espécie de cruzamento entre Davy Crockett e Henry David Thoreau o que permite à autora escrever sobre as sociedades utópicas do século XIX, o movimento Beat e outras experiências. Fascinante. Só espero que não façam deste livro um filme tão mau como o que fizeram a partir de outro livro desta autora "Comer, Orar, Amar" que não era fabuloso mas não merecia um tratamento à la Bardem e à la Julia Roberts.
Para já, quero referir o óptimo trabalho da editora Temas e Debates que pôs cá fora, em rápida sucessão, reedições de três obras fundamentais para a formação filosófica, política e literária de qualquer ser humano que se preze. São livros para consulta frequente e para releituras assíduas:
"Tratado Político" de Espinosa
"O Príncipe" de Maquiavel
"O Cânone Ocidental" do decano Harold Bloom, este último um utensílio indispensável – embora de conteúdo polémico, o que é sempre uma boa coisa – para quem quer que se interesse por Literatura. O único português incluído é, evidentemente, Fernando Pessoa por quem Bloom tem uma verdadeira obsessão.
Quanto a outros livros:
“Mão Morta. Um Crime em Calcutá” do veterano de literatura de viagens – e não só – Paul Theroux, (Ed. Quetzal) com um relato de crimes e castigos no ambiente tórrido e húmido da populosa cidade asiática. Tão elogiado como criticado, este romance é uma espécie de tributo à Índia – caótica, fascinante, para alguns, repelente – e para quem gosta, com longas e por vezes exaustivas descrições de sexo tântrico. Theroux é um desses autores que sem nunca chegar aos píncaros, não tem dificuldade em mostrar a sua competência e versatilidade. Mistura géneros, liberta-se de dogmas e fala do que lhe interessa. Theroux que é filho de um canadiano e de uma italiana e foi escuteiro e católico na juventude, tem levado uma vida de aventuras e viajado por todo o mundo. Num dos seus primeiros livros, passado em África – “amor à primeira vista “ – escreveu sobre “a futilidade das políticas africanas e a desintegração da vida tribal”.
Também li, numa noite em que recordei os tempos em que só apagava a luz de madrugada, “O Último Homem Americano” de Elizabeth Girlbert, Ed Bertrand. E ADOREI. É um livro sobre a figura (real) de Eustace Conway, que vive como os primeiros pioneiros americanos ou, mais propriamente como os nativos americanos antes do avanço industrial e tecnológico. Mas não pensem que é (apenas) uma apologia do “bom selvagem” ou uma história sobre um hippie retardado. Eustace é um fenómeno e é preciso ler o livro para perceber que Gilbert desejou falar – e fá-lo de uma forma inteligente – sobre o que significa a “vida alternativa” e como estas podem ser mantidas ou, como na maioria dos casos, destruídas em pouco tempo. Gilbert é divertida, entusiasta e apesar de eu saber calcular que poucas pessoas falarão do livro nos jornais – muito “light” – eu li tudo com o maior prazer, enquanto relembrava a minha própria infância quando, em África, tal como Eustace nos Estados Unidos, as crianças iam para o mato brincar sem supervisão de adultos e comíamos formigas, raízes, bagas e apanhávamos cobras e outros animais. Uma espécie de viagem desvairada - como as que fez Eustace - a um ponto de não retorno. Eustace Conway é uma espécie de cruzamento entre Davy Crockett e Henry David Thoreau o que permite à autora escrever sobre as sociedades utópicas do século XIX, o movimento Beat e outras experiências. Fascinante. Só espero que não façam deste livro um filme tão mau como o que fizeram a partir de outro livro desta autora "Comer, Orar, Amar" que não era fabuloso mas não merecia um tratamento à la Bardem e à la Julia Roberts.
sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011
E ontem fui ao Teatro. Estreia de "Azul Longe nas Colinas" de Dennis Potter. Na Sala Estúdio do TNDM II.
E ontem fui ao Teatro. Estreia de "Azul Longe nas Colinas" de Dennis Potter. Na Sala Estúdio do TNDM II.
Um texto cuja temática me fez lembrar "O Deus das Moscas" de William Golding e me pareceu "datado" e cheio de clichés. Mas o que importa MESMO é o trabalho dos ACTORES e a encenação de Beatriz BATARDA - esta, irrepreensível, rigorosa, exigente, bem trabalhada, apaixonante. Quanto aos ACTORES, dão tudo por tudo numa entrega arrepiante. Corpo-a-corpo muito físico, extenuante, num difícil balanço entre o muito intenso e o registo histérico. Ontem foram BRILHANTES. São todos magníficos mas gostaria de destacar Albano Jerónimo, cheio de testosterona ("creepy"), Luisa Cruz à la Meryl Streep – a fazer tudo o que lhe pediram e muito mais, com subtilezas deslumbrantes - e Bruno Nogueira, trágico e tão comovente. Falo de Bruno Nogueira porque, no final, ouvi no átrio comentários pouco simpáticos a seu respeito - como se pelo facto de ele ser essencialmente um actor cómico não tivesse "direito" a este papel. "Que ele tem sempre o mesmo registo!” ouvi dizer a almas caridosas. Pois eu não acho nada. Não o conheço, só o vi nos Contemporâneos mas fiquei pregada aquele corpo demasiado esguio - aquelas pernas que nunca mais acabam, altas demais - preso de tristezas e de fantasmas. Um espectáculo hipnotizante com música de Bernardo Sassetti.
Um texto cuja temática me fez lembrar "O Deus das Moscas" de William Golding e me pareceu "datado" e cheio de clichés. Mas o que importa MESMO é o trabalho dos ACTORES e a encenação de Beatriz BATARDA - esta, irrepreensível, rigorosa, exigente, bem trabalhada, apaixonante. Quanto aos ACTORES, dão tudo por tudo numa entrega arrepiante. Corpo-a-corpo muito físico, extenuante, num difícil balanço entre o muito intenso e o registo histérico. Ontem foram BRILHANTES. São todos magníficos mas gostaria de destacar Albano Jerónimo, cheio de testosterona ("creepy"), Luisa Cruz à la Meryl Streep – a fazer tudo o que lhe pediram e muito mais, com subtilezas deslumbrantes - e Bruno Nogueira, trágico e tão comovente. Falo de Bruno Nogueira porque, no final, ouvi no átrio comentários pouco simpáticos a seu respeito - como se pelo facto de ele ser essencialmente um actor cómico não tivesse "direito" a este papel. "Que ele tem sempre o mesmo registo!” ouvi dizer a almas caridosas. Pois eu não acho nada. Não o conheço, só o vi nos Contemporâneos mas fiquei pregada aquele corpo demasiado esguio - aquelas pernas que nunca mais acabam, altas demais - preso de tristezas e de fantasmas. Um espectáculo hipnotizante com música de Bernardo Sassetti.
terça-feira, 8 de fevereiro de 2011
ELIZABETH BISHOP - Centenário
8 de Fevereiro de 2011. O dia está quase a terminar. Em todo o lado nos jornais, nas redes sociais, falou-se muito de muita gente: de Samuel Butler (1612), de John Ruskin (1819), de Julio Verne (1828) e de James Dean (1931) que nasceram neste dia do ano.
Elizabeth Bishop que nasceu há cem anos. foi totalmente esquecida.
Sim, não foi referido o centenário do nascimento da grande poeta americana Elizabeth Bishop que nos ensinou a todos que "não é difícil dominar a arte da perda" - de coisas, de pessoas, de horas, de cidades, de casas, de tudo o que enche e preenche os nossos dias.
Perdemos mais um dia sem falarmos de Bishop. Por ser mulher e lésbica? Por a mãe ter enlouquecido, por a amante brasileira se ter suicidado? Esquecemo-la apesar de ter ganho prémios sobre prémios (Pulitzer em 1956, National Book Award em 1970, dois Guggenheim's, entre outros)? Apesar de ter sido amiga de Robert Lowell com quem trocou uma vasta correspondência até à morte de Lowell, em 1977? Será que esquecemos o seu prazer em viajar, as suas casas em França e no Brasil, a relação tumultuosa com a arquitecta e "socialite" Lota de Macedo Soares que durou quinze anos?Será que não temos tempo para reler a sua obra, detectar a influência de Marianne Moore que Bishop conheceu no seu último ano em Vassar e que a protegeu, amparou e promoveu, reconhecendo-lhe o enorme talento. Sim, porque Elizabeth que escreveu "In the Waiting Room", lembrando a sua infância de órfã com os severos avós paternos,
you are an I,
you are an Elizabeth,
you are one of them.
Why should you be one, too?
you are an Elizabeth,
you are one of them.
Why should you be one, too?
(...)
... foi a mesma que, em Vassar, onde ingressou em 1930, fundou uma revista "alternativa" - chamada Con Spirito - com as suas amigas e companheiras Mary McCarthy e Eleanor Clark. Em Setembro de 2010, o escritor William Boyd publicou um texto no jornal Guardian sobre a sua visita - quase uma peregrinação - aos lugares onde viveu, no Brasil, aquela a que chama "a escritora dos escritores".
O texto de Boyd começa assim:
"Apartamento 1011, 5 Rua Antonio Vieira, Leme, Rio de Janeiro – this was Elizabeth Bishop's first address in Brazil. A few weeks ago I stood on the wavy black and white mosaic sidewalk of Copacabana beach gazing up at the 1940s building opposite. Eleventh floor, penthouse corner apartment. I tried to imagine Bishop looking out over the view. Not that much has changed here in Leme (apart from the odd skyscraper) – most of the apartment blocks fronting the ocean are from the 40s and 50s. Bishop's building is at the eastern end of the beach. West, a few blocks away, is the famous Copacabana Palace Hotel. On the hill behind the apartment I could see the vertically clustered shacks of the Favela Chapéu Mangueira on Babilônia Hill..."
E segue por aí fora ao longo de várias entradas que seguem o abecedário - começa com A de Apartamento e acaba com Z de Zona - e definem Bishop, pelo menos no que diz respeito ao seu tempestuoso, turbulento, terrível tempo brasileiro.
The Art of Losing
The art of losing isn't hard to master; so many things seem filled with the intent to be lost that their loss is no disaster, Lose something every day. Accept the fluster of lost door keys, the hour badly spent. The art of losing isn't hard to master. Then practice losing farther, losing faster: places, and names, and where it was you meant to travel. None of these will bring disaster. I lost my mother's watch. And look! my last, or next-to-last, of three beloved houses went. The art of losing isn't hard to master. I lost two cities, lovely ones. And, vaster, some realms I owned, two rivers, a continent. I miss them, but it wasn't a disaster. -- Even losing you (the joking voice, a gesture I love) I shan't have lied. It's evident the art of losing's not too hard to master though it may look like (Write it!) a disaster. |
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011
"O Deus das Moscas" e a Comunidade de Leitores
Ontem, dia 3 de Fevereiro, a Comunidade de Leitores na Culturgest não correu bem. O livro que discutimos foi “O Deus das Moscas” de William Golding, o que talvez não predispusesse à boa disposição. A sala estava cheia, faltavam cadeiras e lá nos fomos acomodando. A história de um grupo de rapazes que fica preso numa ilha deserta e que rapidamente perde as boas maneiras e os traços civilizacionais adquiridos para mergulhar na violência e na barbárie é, desde 1954 – ano da sua publicação – um livro de culto. Golding escreveu-o no rescaldo da IIª Grande Guerra e o que viu no campo de batalha - mais propriamente, no mar - deixou-o sem grandes esperanças em relação à bondade do ser humano. Ele serviu na Marinha e tomou parte no desembarque na Normandia, o que lhe proporcionou uma visão nada optimista de um mundo em colapso moral, social, físico e psicológico. Tratámos de discutir os temas centrais do livro: a essência do mal – e a do bem – o aspecto político – democracia versus tirania – e a incapacidade dos seres humanos de se unirem para sobreviver, preferindo a luta pelo poder, etc.
Um tema que vem muito a propósito nos tempos sombrios que atravessamos.
Referimos cada personagem e a sua respectiva posição e representação na trama, o confronto entre os aspectos dionisíacos e apolíneos do romance, a abordagem “pagã” e a abordagem “bíblica” bem como os aspectos mais práticos como a dinâmica de grupos, etc. Também abordámos a questão do MEDO - de as pessoas viverem no medo, o que as empurra para situações dramáticas e as leva a actuar de uma forma irracional. Entretanto, continuavam a chegar pessoas, estava quente e um homem que nunca tínhamos visto sentou-se ao meu lado no sofá e prontamente adormeceu, vergado sobre o braço da poltrona como se fosse uma marioneta. À medida que eu ia tentando dirigir a sessão olhava-o de relance para ver se não estava desmaiado – acordava de vez em quando e dizia, anhhh, anhh, ah, sim, ah, sim?. Depois foi uma das participantes que se irritou e abandonou a sala batendo com a porta, de tal forma zangada que deixou ficar a carteira na respectiva cadeira, o que obrigou uma das muito simpáticas assistentes da Culturgest a entrar para “salvar” a mala. Outro participante defendia Jack Merridew e os caçadores do livro, enquanto uma admirável jovem quase chorava com pena de Piggy e repetia: “eu defendo o Piggy até à morte”!
Não, ontem a sessão não correu nada bem.
Não, ontem a sessão não correu nada bem.
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