segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

No dia dos 200 anos de ORGULHO e PRECONCEITO de Jane Austen



No dia em que se celebram os 200 anos da publicação de ORGULHO e PRECONCEITO de Jane Austen , uma brevíssima incursão pelos estudos "austeneanos":
Nota: este texto faz parte de uma conferência sobre Jane Austen, proferida por mim, na Culturgest, Lisboa, inserida no ciclo Marcas,Abril- Maio, 2007.
“Depois da morte de Jane Austen, em 1817, os seus romances perderam popularidade com a escalada do romantismo e, mais tarde, com a crítica marxista que concordou com a apreciação de Ralph Waldo Emerson de que a escritora tinha sido uma conformista ao criar heroínas a quem não permitia a liberdade de seguirem os seus anseios mais profundos e de se libertarem dos constrangimentos da sociedade. Emerson concordava com a sua contemporânea Charlotte Brontë que criticou Austen chamando-lhe qualquer coisa como fria, racional, insensível, incapaz de expressar sentimentos genuínos, anseios do coração e dores pungentes da alma. (palavras minhas). Recorde-se, também que, quando Madame de Staël esteve em Londres quiseram proporcionar um encontro entre ela e Jane – esta esquivou-se habilmente - e a famosa e aclamada dama de Letras declarou que Austen era “vulgaire”.
O relutante Walter Scott não conseguiu, todavia, fugir à sua influência, embora lá no fundo se ressentisse da mordacidade da escritora; mas o sólido e visionário Richard Whately já em 1821 a comparava a Homero e a Shakespeare, opinião que partilhou com Lord Macauly (“ Como vêm, eu próprio tal como o senhor Darcy, não me preocuparei em ser orgulhoso”, escreveu ele às irmãs) ”e foi mais tarde recuperada por Harold Bloom. O filósofo e crítico George Henry Lewes escreveu entusiasticamente sobre Jane Austen numa série de artigos (entre 1840 e 1850) “The Novels of Jane Austen”.
No século XX, lenta mas inexoravelmente a reputação de Austen foi recuperada, apesar de alguns revezes como os duros golpes desferidos por Kingsley Amis e Edward Said. Foi Edmund Wilson, o mais importante crítico do século XX ( tal como Lionel Trilling, não esqueçamos) quem escreveu longamente sobre Austen tecendo-lhe louvores, sendo famosa a sua intervenção junto de Vladimir Nabokov quando este procedia à escolha de autores para o curso de Literatura Europeia na Universidade de Cornell. Apesar de uma resistência inicial – Nabokov era um misógino puro e só tinha escolhido escritores homens –o russo acabou por se render ao efeito Austen. Não será necessário referir a inteligentíssima apreciação que Virgínia Woolf fez da obra Austeneana” – contrariou em absoluto a ideia do conformismo das heroínas e contrapôs que basta atentar em Elizabeth, Catherine, Emma, Fanny e Anne (para mencionar apenas algumas das suas criações mais extraordinárias) para se chegar à conclusão de que estas figuras femininas possuem uma individualidade muito marcante e nada têm de dóceis. E até George Steiner demonstra que , ao contrário do que se diz, Jane Austen, “ao prestar tão detalhada e incisiva atenção aos aspectos da classe, da propriedade e do rendimento tornam-na a nossa romancista protomarxista emblemática” (em A Poesia do Pensamento, ed. Relógio D’ Água, Lisboa)

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