quinta-feira, 20 de setembro de 2012


A reflexão de MIGUEL TORGA sobre a "descolonização" vem a propósito da leitura, marcada para hoje - início da nova COMUNIDADE de LEITORES, na CULTURGEST - de O RETORNO, de Dulce Maria Cardoso, ed Tinta da China, um extraordinário romance que relata o regresso dramático da então colónia de Angola, em 1975, de cerca de um milhão de pessoas - ou meio milhão - e a iniciação de um jovem de quinze anos num novo/velho mundo. Estes acontecimentos marcam, simbolicamente, o fim do Império - como hoje em dia assistimos ao fim do País. Mas agora não há lugar para retornos, apenas lugares de fuga.

Escreve Miguel Torga ..."Retorno maciço dos portugueses do Ultramar. Na aflição da fuga, até de barco de pesca vieram muitos, a ponto de alguém dizer que fomos descobrir o mundo de caravela e regressámos dele de traineiras. A fanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem grandeza de uma aventura. Metade de Portugal a ser remorso da outra metade. Os judeus da diáspora ansiavam por regressar a Canaan. Povo messânico também mas de sentido exógeno, para nós o regresso é o exílio. A nossa Terra Prometida estava fora de Portugal.

--- MIGUEL TORGA, Diário XII, 3ª edição revista

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