O tempo foi escasso para a discussão sobre "A Costa dos Murmúrios" de Lídia Jorge. Dissecámos o seu olhar nada romantizado nem complacente sobre a Guerra, a noção de prisão- os vários compartimentos, do Stella Maris (uma espécie de colmeia) à casa de Helena, dos contentores na praia ao Moulin Rouge - o sentido da desumanização e do caos, o poder da hierarquia militar ( e o porquê dessa força), o lado anti-épico do romance, os ritos iniciáticos, o percurso de descoberta pessoal de Evita/Eva Lobo, a cicatriz de Forza Leal e o seu simbolismo, a tarefa de Helena - abrir a caixa de Pândora - o significado de um conflito que teve três nomes : Guerra Colonial, Gurra da Libertação e Guerra de África, consoante os lados assumidos. E conversámos ainda, longamente, sobre a magnificência da escrita, a desconstrução da narrativa, a forma como os odores e as cores se infiltram na mente do leitor, etc. Discutimos mais : a Ilíada e a "glória" dos guerreiros, Penélope e os Ulisses deste mundo, a necessidade (ou não) da Guerra, a violência inata - discussão: seremos todos capazes de matar e de cometer atrocidades e em que circunstâncias - a situação das mulheres na segunda metade do século XX, a ambiguidade e complexidade de África, a descoberta do "outro", o racismo, o imperialismo. Não esgotámos os temas, muito mais ficou por dizer.
A seguir vamos mergulhar noutro século tão complexo e "acelerado" como o século XX, com "A Obra ao Negro" de Marguerite Yourcennar. Preparem-se que vai ser duro.
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